quarta-feira, 24 de agosto de 2022

P908: PISTA DE AVIAÇÃO DE DULOMBI

Com a devida vénia e felicitação pela brilhante narrativa transcrevo a saga da construção da Pista de Aviação de Dulombi, realizada pelo Rui Felício e da qual viemos a usufruiur a partir de Maio de 1970.


OS PÉS DE CHUMBO DO EXÉRCITO A CONSTRUIR AERODROMOS
( Ou… quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão…)
Depois de mais de dois terços da comissão em que a CCAÇ 2405 se encontrou dispersa, sempre com pelo menos 3 Grupos de Combate destacados em tabancas circundantes a uma distância razoável de Galomaro onde estava a sede da Companhia, o pessoal foi finalmente reagrupado na tabanca de Dulombi.
Depois de ter construido um quartel em Galomaro e criado as condições de instalação, foi mandada para Dulombi onde nada existia.. Onde nunca tinha estado tropa estacionada…
E a poucos meses do fim da comissão foi necessário recomeçar tudo de novo.
Edificou-se o bunker do Capitão, assim chamado por ser uma autêntica fortaleza de betão armado, de paredes e lajes duplas, à prova de qualquer tipo de projectil por mais potente que fosse.
Para o restante pessoal escavaram-se abrigos enterrados, cobertos de palmeiras e terra, e rasgaram-se variados percursos desenfiados, vulgo, valas de circulação entre abrigos.
Rodeou-se a tabanca de arame farpado duplo, protegido por uma densa rede de minas e armadilhas que o Alf.Mil Raposo espalhou como só ele sabia…
Montou-se debaixo de um enorme mangueiro existente no centro da tabanca, a messe de oficiais e sargentos e ao lado o armazém de viveres…
Sem grande protecção, diga-se…
Faltava, porém, uma obra importante!
Uma pista de aviação que possibilitasse a aterragem dos Dornier, que trariam correio e viveres frescos com assiduidade semanal.
Para além de que a vinda de meios aéreos de reabastecimento, diminuiria em muito o número de colunas de reabastecimento do Dulombi até Bafatá, com o cansaço e perigos inerentes.
Obtidas as autorizações necessárias à sua construção, iniciou-se o planeamento e execução.
Por determinação do Capitão, fui eu o escolhido para dirigir a construção.
Como se eu tivesse algum conhecimento de aviação ou de construção! Mas a tropa manda desenrascar…
Designei como meu adjunto o furriel Veiga ( de Transmissões ), que, como eu, não percebia nada daquilo….
Entusiasmado, sentei-me à mesa com a carta geográfica da zona e, em consonância com o Capitão, traçámos no mapa as linhas delimitadores da futura pista, que ficou definida como ficando paralela ao topo norte do quartel, no sentido Leste-Oeste.
Tinha a grande vantagem de a meio da pista existir uma lomba natural de terreno que, segundo os especialistas da Força Aérea que contactámos, era optima para amortecer a velocidade do avião durante a aterragem e auxiliar a sua subida durante a descolagem.
O Veiga começou de imediato a dirigir o arranque de árvores e desmatagem do terreno escolhido, alargando essa limpeza de árvores nos topos da pista para facilitar a aproximação das aeronaves.
Uma equipa foi designada para recolher, perto de uma fonte existente ali perto, o que pudesse de cascalho e pedra para compactação da pista.
Só quem conhece a Guiné imagina a dificuldade de cumprir esta tarefa…
Costumávamos dizer que a guerra acabaria, se os combates fossem obrigatóriamente à pedrada… Pois cedo se acabariam as munições, tal a escassez de pedras naquela terra.
Quando o terreno já se encontrava limpo e mais ou menos compactado com a passagem constante de camiões e máquinas por cima dele, quis ser eu pessoalmente a dirigir a marcação das bermas da pista…
No fundo, ia proceder à definição própriamente dita do seu desenho definitivo.
Já tinha calculado e recalculado na carta geográfica, os azimutes que serviriam de guia á implantação no terreno das linhas delimitadoras da pista.
Muito compenetrado do meu papel ( sinto me meio ridiculo hoje ao recordar a minha cagança de então, convencido que era o maior….), mandei uns soldados fixarem no terreno duas estacas e coloquei-me no ponto de cota de origem que já antes tinha localizado no terreno.
Espreitei pela ranhura da pequena bussola militar, onde marquei o azimute préviamente calculado na carta, e mandei afastar para a esquerda e para a direita as estacas espetadas no chão mais à frente.
Até que, com ar de mais inteligente que os outros, rematei:
- Pronto! As duas primeiras estacas já estão alinhadas….. Agora coloquem mais duas a seguir àquelas e eu e esta bussola, definirei a sua localização alinhada e exacta….E assim sucessivamente até ao fim da pista!
Notei que um dos soldados que me ajudavam nesta tarefa, olhava para mim com uma expressão de incredulidade.
Era o Rio, soldado do Grupo de Combate do Alf.Mil.Raposo, que na vida civil era pedreiro e que por infelicidade dele não tinha concluido sequer a 4ª classe….
Perguntei-lhe:
- Diz lá Oh Rio… Parece que queres dizer alguma coisa, ou não?
Disse-me:
- O meu alferes desculpe, mas acho que estamos com um trabalho do caraças, quando era muito mais fácil esticar um cordel entre a primeira estaca e outra no fim da pista e marcar no chão o risco que seria a berma.
E continuou:
- O meu alferes só tem que dizer onde quer que a pista comece e onde quer que ela acabe… Depois estica-se o cordel…
Sorri condescendente e retorqui:
- Oh Rio, és um gajo porreiro, mas não te ofendas.. Estas coisas de azimutes e coisas assim, tu não percebes nada disso.. E isso de esticar o cordel pode servir para trabalhos simples, mas não te esqueças que isto é uma pista de aviação!
Continuei pois com o trabalho como eu achava que devia ser feito.
O Rio, disciplinado como era, não voltou a fazer mais comentários.
E chegou o grande dia!
Quando eu dei por concluida a “obra”, o Capitão pediu a Bissau que mandasse um avião inspeccionar a pista e aprová-la para futuros voos regulares.
No dia seguinte, com alguma ansiedade, vimos um Dornier sobrevoar o Dulombi, e depois de duas ou três voltas, disse que ia aterrar, pedindo que o responsável pela construção daquela obra prima se aproximasse do avião para com ele levantar voo de novo…
Logo que aterrou, aproximei-me do Dornier que, ainda com o motor a trabalhar, me aguardava.
Abri a porta e sentei-me ao lado do piloto ( era o Sargento Honório, de origem caboverdeana e tido como um dos melhores da Força Aérea da Guiné ).
Estendeu-me a mão, e perguntou-me de chofre, com ar de gozo:
- O meu alferes é que é o autor deste “aeroporto”?
Respondi-lhe que sim, ainda orgulhoso e convencido de ter feito um excelente trabalho.
Continuou, rindo:
- Já lhe vou mostrar isto visto de cima. Mas já o vou avisando que bem pode limpar as mãos à parede….
Não foi preciso dizer-me mais nada nem subir muito alto…
À medida que o avião ia subindo, reparei no desenho da pista perfeitamente visivel lá de cima.
O traçado ia a direito até ao sitio onde existia a tal lomba de que falei ao principio.
Depois disso, desviava-se considerávelmente do traçado inicial, fazendo uma declinação de alguns 30 graus para a direita.
Dito de outra forma, aquilo que deveria ser uma linha recta, era de facto um L mal desenhado…
Fiquei descoroçoado….e perguntei-lhe:
- E agora… Temos que refazer tudo e corrigir o erro, não é?
Ele disse:
- Nada disso, a Força Aérea aterra em qualquer sitio! Não se preocupe….
Vai ver agora na aterragem, o que eu vou fazer….O avião percorre metade da pista e a meio só tenho que lhe dar um cheirinho para a direita…
Desconheço se a pista ainda existe….
Mas a verdade é que mesmo torta ela foi de grande utilidade, e os aviões aterravam lá uma vez por semana…
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E aprendi uma lição para o resto da vida:
A mais simples opinião de um analfabeto nunca deve ser desprezada…
Ela contém sempre algo de experimental que o conhecimento da escola nos não dá…
E a experimentação pode conter formas expeditas de resolver os problemas, muitas vezes mais inteligentes que as elaboradas formas cientificas estudadas nos gabinetes..
Rui Felicio

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

P907: MUSEU DA GUERRA COLONIAL

Principalmente para os nossos camaradas do Norte (e são a maioria esmagadora) aqui vai uma indicação de passeio de Verão, sugerida pelo famalicense Alfredo Sá e que eu corroboro em absoluto: uma visita ao Museu da Guerra Colonial que se situa em Ribeirão, freguesia do concelho de Famalicão.

Seguem-se os dados principais extraídos da página da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.

Museu da Guerra Colonial - Lago Discount, Lote 35 A - Ribeirão

Horário: Terça a sexta, das 10h00 às 17h30 - Sábado: 14h30 às 17h30. Domingo (sob marcação).
Encerra às segundas e feriados nacionais, sábado de Páscoa, 24 e 31 dezembro

Entrada Livre

O Museu da Guerra Colonial mais do que um espaço museológico, é um local que pretende transmitir ao visitante um real conhecimento sobre este período da História de Portugal, contado por quem a viveu e sentiu na primeira pessoa. A exposição permanente retrata o itinerário do combatente português na Guerra Colonial (1961-1974), abordando as temáticas d’O Embarque; O Dia-a-Dia; As Operações Militares; Os Nativos; A Ação Social e Psicológica; A Religiosidade; Os Horrores da Guerra; A Morte; A Correspondência e as Madrinhas de Guerra.
Todo o acervo museológico foi cedido ou doado por antigos combatentes ou seus familiares, Delegações da Associação dos Deficientes das Forças Armadas e pelos vários ramos das Forças Armadas Portuguesas.
O visitante poderá ainda ver os objetos usados pelos nossos Militares, como Baús da Guerra (objetos pessoais, alimentação, vestuário), Fardamentos e Equipamento Militar (torres de transmissões, paraquedas, capacetes, armas), e Veículos de Guerra.

Missão
Promover a compreensão da história e do impacto da guerra colonial nas suas dimensões pessoal, nacional e internacional, com ênfase na experiência humana.

Objetivos
1. Promover a consciência para os valores da paz e da não violência;
2. Valorizar a memória da guerra colonial no contexto individual e coletivo;
3. Incrementar, de forma coerente, a coleção do museu;
4. Difundir o conhecimento sobre a coleção;
5. Promover o museu como uma instituição eficaz, responsável e transparente na transmissão da temática “guerra colonial”.

museuguerracolonial@adfa.org.pt

P906: ALÔ DAQUI FALA O LEMOS

                                                                      JULHO 2022 

 1 - Francisco Teixeira Pinto, ex-soldado atirador do 4.º pelotão e com o n.º 74 da lista dos combatentes, reside em Amarante, distrito do Porto. Em Amarante podemos visitar a Igreja de S. Gonçalo, o Museu Municipal Amadeo de Souza Cardoso e a Ponte de S. Gonçalo, entre outras belezas desta região. No dia do seu aniversário – 2 de julho de 2022 – telefonei-lhe para lhe dar os parabéns, pelas suas 74 primaveras. Está bem de saúde. A sua esposa, D. Maria José, cuja doença denominada Machado Joseph a colocou numa cadeira de rodas acerca de cinco anos, continua estável. No próximo convívio, o Francisco terá que vir demonstrar as suas habilidades no cavaquinho e na guitarra clássica, já que está “barra”, principalmente na guitarra clássica.

2 - Fernando Alves Rodrigues, ex-condutor auto e com o n.º 63 da lista dos combatentes, reside em Guimarães, distrito de Braga. No dia do seu aniversário – 4 de julho de 2022 – telefonei-lhe para lhe dar os parabéns, pelas suas 74 primaveras. Está bem de saúde, assim como a sua esposa D. Fernanda. 

3 - Alfredo Lopes Ribeiro, ex-soldado atirador do 2.º pelotão e com o n.º 14 da lista dos combatentes, reside em Riba de Ave, distrito de Braga. No dia do seu aniversário – 7 de julho de 2022 – telefonei-lhe para lhe dar os parabéns, pelas suas 74 primaveras. Está relativamente bem de saúde, assim como a sua esposa D. Goreti. O Alfredo Ribeiro contraiu a denominada “zona” ou “herpes zóster”, conforme noticiado há dois anos, e as consequências foram uma grande perda de visão no olho direito. O Alfredo continua com consultas de rotina de oncologia, depois de ter feito uma operação ao intestino. Desejamos ao Alfredo a continuação das melhoras de todas estas contrariedades.

4 - Miguel Carvalho Teixeira, ex-soldado atirador do 4.º pelotão e com o n.º 141 da lista dos combatentes reside em Amarante, distrito do Porto. No dia do seu aniversário – 14 de julho de 2022 – telefonei-lhe para lhe dar os parabéns, pelas suas 74 primaveras. Está bem de saúde, assim como a sua esposa D. Adelaide.  

5 - Arão de Freitas Simões, ex-furriel do Quadro Permanente na qualidade de atirador de Infantaria e com o n.º 1 da lista dos combatentes, reside em Braga. O Arão reformou-se com a patente de capitão. Ficou em Bissau como delegado do Batalhão e nomeadamente da Companhia 2700. Relativamente à saúde, o Arão tem má circulação (40%), em uma das pernas e, por tal motivo, usa canadianas que, infelizmente, será para toda a vida, visto que não pode ser operado. Continua a fazer fisioterapia em intervalos regulares. No dia do seu aniversário – 25 de julho de 2022 – telefonei-lhe para lhe dar os parabéns dos seus 87 anos. Encontra-se relativamente bem de saúde, assim como a sua esposa D. Emília. 

6 - Leandro José Rosado Gonçalves, ex-furriel vagomestre e com o nº 120 da lista dos combatentes, reside em Ponte de Sor, distrito de Portalegre.No dia do seu aniversário – 28 de julho de 2022 – telefonei-lhe para lhe dar os parabéns pelas suas 75 primaveras. Está bem de saúde, apesar de ter artrite reumatoide, doença autoimune. A sua esposa, D. Arlete, também continua bem de saúde.