sábado, 27 de fevereiro de 2010

P154: SOLDADO BÁSICO




Mais um óptimo artigo do nosso camarada de Batalhão, António Tavares.

Caro Fernando Barata, Ao ler o seu escrito “especialidades no nosso batalhão”, lembro um Soldado Básico, que por razões óbvias omito o nome, mas recordo: - Na formação do BCAÇ.2912 no CIM de Santa Margarida, tivemos um Soldado Básico… Licenciado em Medicina! Soldado Básico por motivos políticos com o único mal de ter ideias diferentes daqueles que nos mandavam ir matar e morrer … a bem da PÁTRIA. Esteve no Presídio Militar de Penamacor onde passou dificuldades de vária ordem …e até económicas! Homem de fino trato sempre pronto a ajudar quem precisasse dos seus serviços médicos com a sua mala triangular, estetoscópio, antipiréticos, anti-inflamatórios, ligaduras, etc. … Um espírito João Semana! Sentia-se útil ao auxiliar e os milicianos agradeciam a sua cooperação que era muito solicitada naquele friíssimo Campo de Instrução Militar. O frio era tanto que os camaradas roubavam mantas uns aos outros para não dormirem gelados na caserna! Eu fui uma das vítimas, mas confesso que também roubei uma! Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão… logo fui perdoado. Se o não fui, a penitência foi cumprida no teatro de guerra: - GUINÉ. No fim do IAO, em Santa Margarida, não faltou nenhuma manta! Sem o conhecimento dos Comandos Militares o Soldado Básico, que era Médico, dormia na caserna dos ex-Cabos milicianos e comia na messe dos Sargentos! O BCAÇ.2912 partiu, em 24-04-1970, da gare marítima de Alcântara, no T/T Carvalho de Araújo, rumo ao CTI da Guiné, com os Alferes Mil. Médicos Vítor Veloso; José Alberto Martins Faria e Eduardo Teixeira Sousa.O Dr. Vítor Veloso em 1971 foi para Bafatá - delegado de saúde - e substituído pelo Alferes Mil Médico José Guedes, ex-Otorrino no HGS.António do Porto. O Médico, com carteira profissional, Soldado Básico, na tropa, continuou no CIM de Santa Margarida. Em 1971 ou 1972 encontrei-o na Guiné, tenho a ideia como Alferes Mil. Médico. Os seus bons serviços e competência técnica foram precisos naquela macabra guerra de guerrilha, onde se matava para não morrer! Quarenta anos passados é o que recordo do Senhor Dr. ... Assim conhecido e tratado pelos milicianos! Os ex-combatentes conhecem bem histórias de repressão política, nos anos de 1961 a 1974 a vários cidadãos de pensamento contrário ao regime vigente de então. A Juventude do pós 25 de Abril/74 por muito que leia, veja e ouça não tem e felizmente a noção e a vivência de uma guerra de guerrilha que visava a conquista das populações nativas segundo a propaganda da época. Um abraço do, António Tavares
Foz do Douro, 27-02-201

Sem comentários: