sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

P602: SITUAÇÃO GEOESTRATÉGICA DE DULOMBI


Há tempos tive acesso a este mapa que nos regista as bases de guerrilha que o PAIGC possuía em território senegalês (a norte) e na Guiné-Conakry (a leste e sul).
Como poderão constatar a base de KAMBERA (assinalada com elipse a vermelho), embora tivesse a separar-nos a dificuldade natural constituída pelo rio Corubal - mas onde existiam aqui e ali algumas cambanças que facilitavam a sua transposição - encontrava-se quase face a face connosco.
É, pois, uma evidência que sempre que os comandos de Kambera pensassem em desenvolver alguma acção, pela ordem natural das coisas, Dulombi seria o alvo.
Perante este facto é para mim, até aos dias de hoje, uma grande incógnita como é que durante aqueles 23 meses ali passados tivéssemos uma comissão de serviço sem grandes sobressaltos.
Não me estou a esquecer que sofremos física e psicologicamente com o accionamento de 3 minas anti-carro mas se este modus operandi por parte do PAIGC era tão devastador e com um mínimo de riscos (bastava pela calada da noite colocar uma mina e ausentarem-se silenciosamente sem serem detectados) por que razão em vez de 3 não colocaram 30 minas?
Dir-me-ão: fomos flagelados com alguma frequência. Sinceramente, o que pode ser classificado como flagelação é a audição de uns tiros de "costureirinha" a longa distância de tal forma que eu se estava a jantar, a jantar continuava???!!!
Por último, é muito estranho que durante este período nunca tivéssemos confronto directo com o inimigo e qualquer um de vós sabe bem que a nossa Companhia nunca foi de se ficar dentro do arame farpado. Aliás, quanto a mim reside neste facto a razão para termos uma comissão algo calma. Como não brincávamos em serviço os "turras" respeitaram-nos. 
Algo mais abona em nosso favor. O Comandante da base de Kambera era Pedro Pires, elemento destacado dentro do PAIGC e que posteriormente foi Presidente da República de Cabo Verde.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Barata
É sempre com muito interesse que leio as tuas publicações históricas da nossa passagem por terras da Guiné.
Se para alguns pode constituir trauma, para mim é sempre agradável recordar esta fase da minha vida por terras africanas.
Admiro sinceramente a tua paciência para o tema. Ainda bem que existem pessoas como tu e outros. Caso contrário, este percurso da nossa vida teria morrido!
Um grande abraço
Carlos Moniz