quinta-feira, 25 de abril de 2024

P969: O BATALHÃO DE CAÇADORES 2912 NO CARVALHO ARAÚJO - ANTÓNIO TAVARES

Às 12 horas certas do dia 24 de Abril de há 54 anos zarpou da Gare Marítima de Alcântara o navio T/T CARVALHO ARAUJO rumo ao Comando Territorial Independente da Guiné. Transportava cerca de 600 militares do Batalhão de Caçadores nº. 2912; tropas individuais; duas enfermeiras e a tripulação do navio.

Um dos tripulantes era contrabandista. Vendia relógios CAUNY PRIMA; bebidas; tabaco; máquinas fotográficas e óculos Ray-Ban.

Em cada viagem ouvia-se uma história passada no anterior trajecto. Não faltavam histórias tenebrosas do antigo navio misto de passageiros e de carga, incluindo o transporte de gado. Antes navegava na rota dos Açores desde 1939. Pertencia à Empresa Insulana de Navegação.

Na manhã do dia 26 avistamos à nossa ré o navio VERA CRUZ com dois Batalhões a bordo e com o destino Moçambique. Zarpou no dia 25 do mesmo cais e à mesma hora da partida do CARVALHO ARAUJO, no dia anterior.

O VERA CRUZ navegava a uma velocidade de cerca de 30 nós e rapidamente ultrapassou o CARVALHO ARAUJO depois de feitas as saudações marítimas dos barcos regrados militares. Eram requisitados pelo Estado e adaptados ao transporte de tropas. 

Em alto mar o CARVALHO ARAUJO teve a companhia de golfinhos. Faziam umas piruetas talvez a troco de restos de comida lançada à ré do navio. Uma companhia divertida e de cor diferente do azul esverdeado do mar e do céu, que nos acompanhava desde o Farol do Bugio.

Próximo das águas quentes do Equador os peixes voadores também visitaram o navio. Foi uma novidade vê-los voar sobre o convés do navio. Atrevidos, alguns morreram na coberta do CARVALHO ARAUJO.

Eu só os conhecia através de fotografias e leituras dos discursos do Padre António Vieira.

Cerca das 21H30 do dia 30 de Abril o CARVALHO ARAUJO ancorou ao largo do porto de Pindjigutti, em Bissau, escoltado pela lancha P 361 - Lira.

O Batalhão de Caçadores nº. 2912 desembarcou no chão guinéu na manhã de 1 de Maio de 1970 ao fim de sete noites a bordo do CARVALHO ARAUJO.

Recordar é bom!


 

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