segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
P105: CARTA ABERTA/DESAFIO AO ESTANQUEIRO
Caro Estanqueiro
Primeiramente o meu pedido de desculpa pela utilização desta via "internáutica" para te dirigir esta mensagem/desafio.
O desafio que te proponho era fazeres a revisitação fotográfica, através da tua Minolta 6X6, da exposição que realizaste na Fundação Mário Soares.
Sei que rostos como o do Semba, da Bela ou da Spaghetti, por razões inexoráveis da vida, já não os conseguirás voltar a expressar naquele papel Agfa lustroso, mas outros sorrisos por lá encontrarás, como que de forma cúmplice dizendo: voltem.
Como estará a cratera provocada pelo rebentamento da mina A/C em Padada? Como estará a Messe e a Caserna? Sobrará alguma carcaça de Unimog?
Aceitas o desafio?
Um abraço do
Fernando Barata
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
P104: GALOMARO DULOMBI EM BICICLETA
Há dias telefonando ao Almeida para lhe agradecer o envio do "Rapanço em Galomaro", o "nosso Cabo" rememoriou-me um episódio digno de narração.
Era mais uma coluna, como tantas outras, a Bafatá para recolha do almejado correio bem como géneros alimentícios. No regresso a Dulombi houve uma paragem em Galomaro provavelmente para recolher mais algum correio ou receber alguma instrução do nosso comandante, Tenente-Coronel Pimentel.
Não posso garantir se foi já em Dulombi mas presumo que a meio do caminho alguém notou que faltava o Russo. Como a noite já se punha, era um risco voltar atrás, até porque o Firmino lá se desenrascaria por Galomaro e em breve haveria nova coluna que o recambiaria. Mas eis que quase que não tinhamos ainda descarregado os Unimogs e aparece o Russo, de bicicleta.
Que se passara, então? Chegado à porta de armas, em Galomaro, e verificando que as viaturas já tinham partido, não esteve com meias medidas. A primeira bicicleta que encontrou chamou-lhe sua e ala que se faz tarde rumo a Dulombi. Impressiona-me o risco em que ele se constituiu. Facilmente poderia ser apanhado à unha pelos turras. Passados dias lá apareceu o Mamadu a reivindicar o seu meio de transporte.
Era mais uma coluna, como tantas outras, a Bafatá para recolha do almejado correio bem como géneros alimentícios. No regresso a Dulombi houve uma paragem em Galomaro provavelmente para recolher mais algum correio ou receber alguma instrução do nosso comandante, Tenente-Coronel Pimentel.
Não posso garantir se foi já em Dulombi mas presumo que a meio do caminho alguém notou que faltava o Russo. Como a noite já se punha, era um risco voltar atrás, até porque o Firmino lá se desenrascaria por Galomaro e em breve haveria nova coluna que o recambiaria. Mas eis que quase que não tinhamos ainda descarregado os Unimogs e aparece o Russo, de bicicleta.
Que se passara, então? Chegado à porta de armas, em Galomaro, e verificando que as viaturas já tinham partido, não esteve com meias medidas. A primeira bicicleta que encontrou chamou-lhe sua e ala que se faz tarde rumo a Dulombi. Impressiona-me o risco em que ele se constituiu. Facilmente poderia ser apanhado à unha pelos turras. Passados dias lá apareceu o Mamadu a reivindicar o seu meio de transporte.
sábado, 7 de fevereiro de 2009
P103: RAPANÇO EM GALOMARO - POR PINTO D'ALMEIDA
Por volta de Junho/Julho 1971, o orgulhoso e militarista Capitão Santos, Comandante da CCS, ao passar revista de formatura, vira-se para o Furriel Moniz e dispara: "Já que você não corta o cabelo, mande cortar aos seus homens" e prosseguiu até mandar destroçar.
Foi uma situação que provocou uma expressão de gozo a alguns elementos da CCS presentes na formatura que, sempre nos dispensaram um tratamento discriminatório, ancorados no facto de supostamente sermos gente do mato.
Mesmo antes de chegar à caserna já a ideia nos bailava na cabeça e para a concretizar foi só ligar a corrente. Vamos rapá-lo todos e assim foi, o meu foi rapado à lâmina.
A expressão do Capitão Santos quando, no dia seguinte, chegou à formatura não consigo descrevê-la mas julgo ter visto no seu olhar encolerizado todas as cores do arco-íris.
Embora tenha dúvidas quanto à ordem porque estes factos se sucederam não duvido nem um bocadinho da sua relação com o acontecimento que passo a descrever. O Capitão tinha encarregado o Furriel de dar instrução a elementos da população candidatos a milícias. Ele indicou como seus ajudantes os dois cabos da secção, eu e o Manuel da Silva Azevedo e ali ficámos à espera dos candidatos que nunca apareceram.
O que terá provocado a ira do Capitão é que ele queria que nós fossemos às tabancas fazer o recrutamento o que nunca aconteceu. Tal foi motivo para instaurar um processo disciplinar ao Furriel que julgo ter tido algumas consequências de pequena monta. Esta decisão da carecada foi uma das mais gratificantes, para mim, pela mensagem surda que significou e pela solidariedade demonstrada entre todos os camaradas.
Disparar por disparar
Qualquer militar dispara
Mas estar lá e alinhar
Ser gozado e aguentar
Só quem tem barba na cara.
A Guiné era tão negra
Tão seca, tão doentia
Que a água que se bebia
Em vez de matar a sede
A hepatite trazia
Cumprimentar os mosquitos
Começava manhã cedo
Lambiam-me testa e braços
E em esmagantes abraços
Neles vingava meu medo.
António Fernando Pinto d'Almeida
Vila Nova de Gaia - 3/2/2009
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