segunda-feira, 22 de março de 2010

P160: 22 MARÇO 1972 - O REGRESSO

Perfaz, hoje, precisamente, 38 anos que nós chegámos da Guiné após cumprimento de arriscada missão.
Por volta das 9 horas da noite e cumpridas as formalidades militares no Aeroporto Militar de Figo Maduro (recordo-me ter recebido um papelinho A5 assinado pelo Comandante do Regimento de Abrantes, Coronel Sousa Menezes, declarando que passaria à disponibilidade a partir de 11 de Abril) lá seguiu cada um de nós para o seu ninho onde familiares e amigos nos esperavam.
A partir de então nova página, ou melhor, novo capítulo começámos a escrever no nosso livro da vida.
Hoje é, portanto, para todos nós, homens que chegaram sãos e salvos, motivo para festejarmos. Contudo, para mim é um dia triste.
Explico porquê. A 24 de Abril de 1970, ao entrar no navio Carvalho Araújo “assinei”, de forma solene e tácita, um imaginário contrato com todos os pais de cada um dos homens vinte e cinco homens que comigo partiam fazendo parte do meu pelotão, prometendo fazer o meu melhor de forma a que no regresso, com muito orgulho e paz de espírito, lhes devolvesse os seus filhos tal como, naquele momento, eles me os estavam confiando.
A 10 de Agosto de 70, o inimigo, de forma traiçoeira (mina anticarro), destruiu o meu sonho. Desculpa CARRASQUEIRA.

1 comentário:

Soares (Telegrafista) disse...

Sem dúvida um episódio marcante!

... Tenta-se o impossível com enfermeiros e toda a gente tentando desesperadamente a reanimação, na qual eu participei fazendo a respiração artificial. Nos meus ouvidos ainda hoje sinto o eco da voz do Furriel Enfermeiro, que perante a impotência gritava desolado: “Carrasqueira não morras, não morras!” Mas, o Carrasqueira não aguentou e apagou-se mesmo. Foi o desalento, o desânimo total.

(Excerto da minha história de vida, publicada em livro)