terça-feira, 6 de abril de 2010

P163: MEMÓRIAS DE DULOMBI - JOAQUIM PASSOS TINOCO


Transcrevo o testemunho do Joaquim Tinoco, Alferes pertencente à 1.ª Companhia do Batalhão 4518/73. Esta Companhia foi render a 3491 (Companhia que nos rendeu). Como constatamos, pelo seu relato, fizeram a transição para o PAIGC.

Foto histórica, gentilmente cedida pelo António Morais, retratando a retirada do último soldado português, do Dulombi. Aos poucos o "Império" ia-se desmoronando.

O Batalhão de Caçadores 4518, chegou a Galomaro em finais de Janeiro de 1974.
A 1ª Companhia, foi para o Dulombi, onde fomos render a companhia do camarada Luís Dias, que tinha ficado lá, apenas com um pelotão, para nos receber.
Vieram esperar-nos na picada, com 3 Unimog’s, com “câmaras de filmar” a fingir para “registar” o momento. As outras companhias foram para os aquartelamentos circundantes, nomeadamente Bambadinca e outros locais cujo nome já não recordo. Havia sido decretada, em 1973, a independência em Madina do Boé e depois de uma custosa incursão até ás margens do rio Corubal, a poucos Kms de Madina, do outro lado do rio, que não atravessámos, mas onde detectámos uma grande actividade inimiga, voltámos e tendo dado conta dos preparativos inimigos foi decidido abandonar o aquartelamento do Dulombi, já em finais de Março de 1974, tendo a nossa 1.ª Companhia sido transferida para Nova Lamego (Gabú), de onde passou a exercer uma actividade de intervenção, em apoio ás tropas aquarteladas em Paúnca, Pirada, Bajocunda, Piche, Buruntuma, Canquelifá, etc, para onde éramos destacados, após os ataques. Aqueles aquartelamentos estavam já reduzidos ás valas e abrigos subterrâneos, não havendo já construções acima do solo. Estava tudo destruído. O nosso trabalho consistia em ir em perseguição do inimigo, mas felizmente, apesar de encontrarmos muitos vestígios da sua presença, nunca tivemos nenhum contacto, nem fogo inimigo, situação que entretanto se alterou com o 25 de Abril, pois então passámos a ter contactos visuais, com ordens de não abrir fogo a não ser para responder, o que nunca aconteceu, pois, entretanto, os “turras”, deviam ter as mesmas instruções, e nunca houve problemas. Entretanto, a partir de Maio/Junho, com o início das conversações, com vista á independência o inimigo apoderou-se do nosso quartel. Os nosso soldados dormiam no chão, pois os colchões foram passados para a tabanca, por cima do arame farpado do aquartelamento, a partir de onde as mulheres os levavam para as palhotas. Em Julho, tirei um mês de férias na Metrópole. Quando regressei, já tive dificuldade em embarcar de novo para Nova Lamego. Esperei em Bissau, mais de 15 dias por um transporte, e acabei por ir por estrada.
O meu colega Alferes, que me esperava, já não pôde vir de férias, pois entretanto, estávamos já a abandonar a cidade. Ficou lá só uma secção do meu pelotão, com o meu Furriel Arroteia, e os restantes viemos para Bissau. Como havia uma grande confusão com os transportes para o regresso à Metrópole, e os nativos se estavam a recusar a carregar os nossos barcos, com o material de guerra que era possível embarcar, bem como as coisas pessoais de muitos comandantes, o nosso Capitão ofereceu os 3 pelotões que tinha, para carregar os barcos. Os soldados faziam turnos de 6 horas e descansavam dezoito, mas como éramos só dois oficiais milicianos, pois um tinha ido para uma companhia de nativos e o outro acabou por vir de férias (não sei bem como) nós os dois alinhávamos em turnos de seis horas e descansávamos outras seis dia e noite, isto durou uma semana. Foi muito cansativo, até que finalmente, a 11 de Setembro, nos colocaram um avião á nossa disposição, que nos trouxe até Figo Maduro, de onde fomos para Caç. 5, em Campolide, para desmobilizar.
Desse dia, recordo o facto de os meus soldados terem repartido entre si a minha camisa com galões e tudo, “relíquia” que muitos deles ainda hoje conservam e que constituiu um forte sinal da grande amizade que nos unia. Depois, só nos voltámos a ver ao fim de 27 anos, mas entretanto já há nove anos que nos juntamos todos os anos!
O próximo convívio será no próximo dia 24 de Abril, em Palmela.
Saudações do amigo,
Alf. Mil. Joaquim Passos Tinoco…

2 comentários:

Luís Dias disse...

Caro Fernando Barata

Complementado o relato do Ex-Alferes Tinoco, informo que no Dulombi, aquando da chegada da companhia pira, estava o meu Grupo de Combate (o 2º), mais os 13 homens que tinham ficado naquele aquartelamento, após a nossa retirada para Galomaro em 9 de Março de 1973 e também todas as áreas de apoio da companhia (Tran smissóes, enfermeiro, mecânicos, condutores, etc.)e claro o Capitão. Também estavam ainda 2 pelotões de milícias.
Um abraço
Luís Dias

cancolim disse...

ola ...
manuel moura ex furr armas pesadas da 2ªcompª bcaç4518 em cancolim.
meu contato :
golfinho101mares@hotmail.com
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