domingo, 14 de abril de 2013

P451: AS NOTÍCIAS SOBRE A MINHA MORTE SÃO MANIFESTAMENTE EXAGERADAS - MARK TWAIN



José Guerra 
1971







No Post n.º 389 – José da Silva Guerra, com texto de António Tavares, ex-furriel do nosso Batalhão, no final pode ler-se: "O Guerra apareceu num dos nossos convívios. Eu nunca mais o vi desde Março/1972. Consta que já faleceu".
Ora, nas minhas últimas pesquisas, também procurei saber da veracidade do falecimento ou não do GUERRA.
Felizmente, está vivo e de boa saúde.

Com sua autorização passo a transcrever a carta que o José Guerra me enviou: 

“Amigo Lemos aí vai depois da injustiça que aqueles três malandros fizeram comigo, pois chegou um oficial que eu tinha de cá ficar mais uns dias; e eu disse-lhe com um sorriso amarelo que não havia problema, já que não morri naqueles meses todos, também, se Deus quiser não me vai acontecer nada.
Bem, o último mês foi complicado. Primeiro começaram a chegar mensagens de toda e toda a espécie. Eu tinha que estar no Posto de Rádio a toda a hora, os outros radiotelegrafistas não tinham. Depois vim a saber que os Altos Comandos estavam a informar o Comando do Batalhão que o inimigo se estava a infiltrar cada vez mais no nosso sector. Foi aí que as coisas começaram a aquecer. Eu fiquei muito triste quando os nossos amigos morreram, mas isto foi desolador. Eu nunca vi tanta tristeza. Mal os carros do Saltinho começaram a descarregar os caixões, comecei a ajudar…Foi tão triste ver aqueles rapazes ainda não tinham chegado há um mês e já iam mortos para casa.
Uns choravam, outros corriam-lhe as lágrimas pelas faces abaixo. Foi muito triste. Nunca pensei assistir a uma cena daquelas depois de dois anos de guerra. Meu amigo, não desejo a ninguém uma cena destas. É muito doloroso. Ainda hoje não consigo esquecê-la…uns vinte caixões e alguns traziam dois colegas!!!
Isto passou. Daí a oito dias foi lá o General Spínola. Eu já tinha conversado com ele no princípio da Comissão, só que desta vez era soldado e na outra era cabo. Ele perguntou-me: «Então nosso Pronto, então como é que vai isso?». E eu respondi:
«Bem, meu General só que já estou aqui há dois anos!»
Ele olhou muito sério para mim, bateu-me no ombro de vagar, e sorriu. E todos saíram do Posto de Rádio.
E eu, oito dias depois fui ter com o Major – 2.º Comandante do Batalhão – e pus-lhe o meu problema. Ele olhou para mim, ficou muito admirado, e disse: «Ó homem, vá tratar das suas coisas e vá-se embora rápido, não o quero ver mais…».
Tratei de tudo e de manhã fui com a coluna para Bafatá, onde apanhei o Dakota para Bissau.
E acaba aqui a história do último mês de guerra na Guiné.
A gente quando nos encontrarmos pessoalmente, ouvirás o resto da História que dava para escrever um livro…
Nunca pensei que houvesse homens tão maus e vingativos que se valiam dos galões para lixar os outros. Esse senhor que me lixou não conseguia lixar-me de outra maneira, valeu-se dos galões para o fazer.

PS. Amigo, este ano não posso ir ao Convívio porque tenho compromissos assumidos, mas para a próxima já estarei prevenido, e já vou.

Sem comentários: