Como todos os outros elementos da Companhia 2700, os “Ferrugentos” também estavam ansiosos pela chegada dos “Piras”.
Os condutores e os mecânicos que compunham o meu “pelotão” tinham trabalhado com afinco, para contribuir e alcançar com honra e competência, os objectivos da nossa Companhia.
A chegada dos “Piras” foi programada ao pormenor – como já realçado no nosso blogue – onde não faltou a R.T.D., conforme mostra a foto abaixo:
e apetrechada com as mais sofisticadas máquinas de reportagem da altura. Admirem-na na fotografia seguinte:
Para receber com honra e dignidade a nova Companhia, as mais altas individualidades se apresentaram a rigor. O nosso “Capitão” (in, soldado-básico, Post 148), apresentou, em nome da Companhia 2700; as boas vindas a todos os elementos “Piras”, conforme elucida a foto, de grande beleza, apresentada abaixo:
Depois de alguns dias de apresentação e convívio, a transferência do espólio mecânico começou a ser trabalhada.
Como representante máximo da “Ferrugem”, foi com naturalidade que me coube essa tarefa e, assim, trabalhei com o furriel mecânico Manuel Rodrigues, de Mortágua, (in, Post 159), a transferência do dito espólio.
Ao ler no nosso blogue o Post 39 – Correia, foste aldrabado – ocorreu-me um episódio aquando da assinatura dos respectivos recibos de quitação.
Relembro que o meu espólio era constituído por 17 viaturas Unimog, 1 Jeep, o equipamento gerador de electricidade e muitos outros elementos dispersos pertencentes à oficina-auto, como aparelhos de soldadura oxi-acetilénica, aparelhos de soldadura a arco eléctrico, máquinas de furar manuais, ferramentas de serralharia de bancada e outras ferramentas que faziam parte da caixa-ferramenteira de cada viatura.
Cada condutor era responsável pela sua viatura e ferramentas associadas, assim como manter a mesma sempre com os planos de manutenção em dia, isto é, mudanças de óleo, lubrificação geral, limpezas e demais cuidados diários, para um funcionamento eficaz da “sua” máquina.
Ainda me lembro do nome dos 17 condutores (penso não estar enganado): Veras, Calado, Luís Maria, Costa; José Silva; Manuel Faria; Serafim Vieira; José Carvalho, Alfredo Sá, Domingos Ferreira, Arnaldo Costa, António Cunha, José Maria Silva, Carlos Amaral, Alves Rodrigues, Paiva Guimarães e o Cardoso.
Voltando, então, ao assunto principal, o Furriel Manuel Rodrigues, não quis assinar os recibos de quitação porque…faltavam as “capotas” ou “oleados” dos Unimogs.
Pudera!!! Alguns deles estavam a servir de tapamento da oficina-auto que construímos, outros tinham-se deteriorado com o tempo, e nunca me passou pela cabeça dar baixa dessas “capotas”, o que seria fácil, com a experiência que tinha adquirido.
Directamente, era eu o responsável por esta “falha”, e cada condutor o responsável por esse material.
Mas, quem queria andar nos Unimogs, com caixa tapada? Ninguém, pois era extremamente perigoso. Melhor era sofrer as consequências do tempo. No Inverno, a chuva, no Verão, o pó. E a visibilidade era imprescindível nas colunas…
Então, houve um impasse. Se o Furriel Manuel Rodrigues não assinasse os recibos de quitação, teríamos problemas, inquéritos e pagamento dos objectos em falta.
Como as conversações estavam um pouco complicadas, e eu não tinha meios de fazer “quadruplicar as capotas” como fizeram ao alferes Correia com as chapas de zinco, sacos de cimentos, etc., pensei num outro estratagema.
Como é sabido, ao longo dos 23 meses de Comissão, fui várias vezes a Bissau entregar peças danificadas dos Unimogs e requisitar novas peças de substituição. Bissau não perdoava a entrega dos elementos inutilizados, e só depois é que os substituía pelos novos. È de entender esta atitude, pois o controlo dos destinos dos materiais era, deste modo, muito eficaz.
Só que, com os carros minados que tivemos e outros estratagemas que fui aprendendo ao longo da Comissão, consegui montar um armazém de peças sobressalentes de fazer inveja a muitas oficinas….
Para dar um exemplo, no fim da Comissão tinha 2 motores novos de Unimogs prontos a serem utilizados, vários dínamos, motores de arranque, pneus e jantes novos, um eixo traseiro completo de Unimog, manómetros, termómetros, velocímetros, faróis, farolins e lâmpadas de todas as qualidades, ferramentas e um sem números de pequenas peças sobressalentes para qualquer necessidade menor ou avaria menos complicada, na frota de Dulombi. Enfim, uma quantidade apreciável de peças, que davam para montar um novo Unimog e ainda sobrariam algumas mais.
DAKOTA – das viagens até BISSAU
Então, disse ao Furriel “Pira”: “Essas capotas que faltam são fáceis de justificar a sua deterioração, mas como os recibos de quitação não são assinados, também não poderei, por uma questão de princípio, deixar em Dulombi, todo o espólio de sobressalentes, acima definido, pois não fazem parte da relação a entregar e, portanto, todo esse material, será entregue em Bissau.
O Furriel Manuel Rodrigues, olhou então para mim, com um ar sério e pensando melhor me respondeu: “ Vou falar com o meu Capitão, e amanhã, falaremos”.
E tudo acabou em bem. As peças extras sobressalentes – que realmente eram valiosas pela sua importância futura – ficaram, e os recibos de quitação foram assinados.
Passados alguns dias, a Companhia 2700 regressou a Bissau, nas célebres L.D.G., sendo o cais de Bissau o local do nosso desembarque:
e , depois, em coluna militar, fomos para Cumeré, sem antes passarmos por SAFIM:
(vê-se a placa – Safim)
e no 707 embarcamos para Lisboa:
Penso que ninguém se apercebeu que houve um atraso de cerca de 45 minutos, na partida do avião!!!
Esse atraso foi devido… ora, adivinhem…. À minha pessoa.
Inocente politicamente como era na altura, andava eu a deambular pela gare do aeroporto, quando me apareceu um amigo civil de Bissau que, gentilmente, me ofereceu uma garrafa de Whisky, que aceitei e a coloquei no meu saco de bagagem de mão.
Ora, este pormenor, devia ter sido visto pela polícia política. A dado momento – estava eu à espera do embarque – tocaram-me levemente nas costas e, pronunciando o meu nome, me disseram; “ Sr. Ricardo Lemos acompanhe-me, se faz favor”. Tudo discretamente.
Dirigi-me, então, para um gabinete, onde me revistaram a bagagem novamente, paguei uma fortuna, em escudos, pela oferta do meu amigo, e mandaram-me seguir para o embarque.
À chegada a Lisboa, fui “perseguido”, implacavelmente, por um elemento policial à paisana – notei perfeitamente – que me seguia por tudo quanto era lado…
Lá pensaram que podia ser uma bomba…
O 25 de Abril, com certeza, apagou o meu nome dos Arquivos da PIDE.
Ricardo Lemos
Set. 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
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