quinta-feira, 28 de abril de 2011

P229: PRESENÇAS NO XX ENCONTRO DA COMPANHIA

1 ALBERTO REIS ESPIRITO SANTO
2 AMADEU VIRGÍLIO SERRALHA PIRES
3 AMÉRICO  DA CONCEIÇÃO  ESTANQUEIRO
4 ANTERO JOSE LAMEIRA DA FONSECA
5 ANTONIO AUGUSTO OLIVEIRA BARROS
6 ANTÓNIO DA SILVA SOARES
7 ANTONIO FRANCISCO DE ALMEIDA
8 ARMINDO DA CONCEIÇÃO RAMOS
9 ARMINDO JOSE DE SOUSA
10 BELMIRO MOREIRA
11 CARLOS ALBERTO MONIZ
12 CARLOS MANUEL DA SILVA T. CORREIA
13 CARLOS VENANCIO JESUS CALADO
14 EDUARDO ROSA FRANCISCO
15 FERNANDO ALVES RODRIGUES
16 FERNANDO DA COSTA RAMOS
17 FERNANDO DOS SANTOS CORREIA
18 FERNANDO MANUEL MADEIRA M. BARATA
19 FERNANDO MARIA LUIS
20 FERNANDO MOTA
21 FRANCISCO TOMAZ DA SILVA RIBEIRO
22 GASPAR ALMEIDA RIBEIRO
23 HELDER ANTUNES PANOIAS
24 HENRIQUE MANUEL DA ROCHA SOARES
25 JOÃO DA COSTA MARINHO
26 JOÃO FONSECA COSTA
27 JOÃO MANUEL MATOS
28 JOÃO MANUEL PAULETA RICO
29 JOAQUIM JESUS ALVES
30 JOAQUIM MOURA QUINTAS
31 JOSE DA SILVA RIBEIRO
32 JOSE GONÇALVES MESTRE
33 JOSE MAIA DA CUNHA
34 JOSE MANUEL ROCHA DA COSTA
35 JOSE MARIA PRATA
36 JOSE MARINHO GOMES DA SILVA
37 JULIO DA ROCHA MACHADO
38 LEANDRO JOSÉ ROSADO GONÇALVES
39 LUIS MANUEL BOMBICO TELHA
40 MANUEL CARLOS CANDEIAS RAVASCO
41 MANUEL FARIA
42 MANUEL GUERREIRO VENTURA
43 MANUEL JOAQUIM MACIEL FERNANDES
44 MANUEL MARIA BRUNHETA
45 MANUEL MARIA RODRIGUES BARREIROS
46 RICARDO PEREIRA LEMOS
47 TIMÓTEO SANTOS 
48 VITOR BARROSO VERAS
49 VITOR MANUEL DE SOUSA RODRIGUES

terça-feira, 19 de abril de 2011

P228: O QUOTIDIANO DE DULOMBI (III) - RICARDO LEMOS

O dia a dia de Dulombi vivia-se calmamente. A população, por seu lado, desenvolvia as suas actividades para obter a sua subsistência no seio familiar, vivendo em comunidade e em grupos sociais, ajudando-se mutuamente em muitas das tarefas comunitárias, partilhando uma herança cultural e histórica.
Os elementos da Companhia 2700, além das suas tarefas “profissionais”, tinham os seus tempos de lazer e descanso. O convívio entre os indígenas era comum, os campeonatos de futebol eram realizados frequentemente, a leitura, os convívios musicais, os jogos de dominó e de cartas, nomeadamente jogos de sueca, de canastra – o especialista era o Barbosa, o póquer – muitas vezes a dinheiro, a bisca, etc., eram as actividades recreativas por excelência. Também a caça e pesca eram praticadas por alguns elementos da Companhia, com os riscos que se conheciam. Havia também aqueles célebres assados de cabrito, ora celebrando aniversários, ora por outras razões, repastos esses realizados muitas das vezes na oficina-auto. E nos dias mais marcantes do ano, nomeadamente no Natal e no Ano Novo, o Pub do Borges e a Messe enchiam-se de “foliões”, as “bazucas” esgotavam-se….e meia Companhia, se houvesse uma “operação stop”, ficava sem a carta de condução!!!

Mesmo assim, um dia em Dulombi, era uma eternidade…

Ora, o quotidiano de Dulombi, também o era para a rapaziada da 2700.

Como actor principal, o meu exemplo, serve de narrativa curta, inculcada como verídica e apresentada como reforço da tese demonstrativa. Sendo assim, algumas imagens apresentadas do “eu” são as imagens de muitos, só teremos de ter a imaginação de substituir o actor principal por quem nos aprouver.

Ao fundo, a nossa caserna, visualizando-se a janela com as suas cortinas. Uma cadeira artesanal – seria feita com a madeira dos pipos de vinho? Serve para mais uma sesta… A Chana – a nossa gata de estimação, não parece muita satisfeita…

A leitura e a escrita eram uma das actividades do dia a dia. Aqui se recorda o aspecto dos quartos dos furriéis. Não faltam as fotografias, um livro de leitura – neste caso trata-se do romance “ Mar morto” do escritor brasileiro Jorge Amado, livro que trata do nascimento, vida e morte do personagem Guma, uma lenda baiana, a indispensável ventoinha e, ainda, um instrumento musical dos indígenas de Dulombi, além de outros objectos pessoais. Fotografias nas paredes completam o quadro.


A leitura dos jornais, quando chegavam da Metrópole, também eram uma actividade cultural. Na imagem, o personagem lê “A Bola”, e o nome BENFICA aparece em grande plano na primeira página. Claro, visto que o Benfica venceu, nesta altura, 3 campeonatos seguidos: 1970/1971; 1971/1972 e 1972/1973.


A parte musical também não foi esquecida. O meu acordeão foi uma companhia constante em determinados momentos de lazer. Lembro-me que, certa noite, tocamos 2 horas a mesma música de Frank Sinatra “Strangers In The Night”, com letra conforme a lembrança do momento e focando muitos temas. O protagonista foi o furriel Barbosa… Foi uma noite inesquecível


Outro aspecto da actividade musical. Ao fundo, a parede do quarto emoldurada com uma catana, uma espingarda antiquíssima, fotos, corações, e outros objectos não identificados. E o tempo ia passando devagar, devagarinho…


A caça, utilizando a G3!!!, era um desporto que se praticava em Dulombi, com os riscos inerentes, relativamente ao descuido de se sair dos limites do arame farpado que circundava Dulombi. Pássaros, coelhos, lebres, galinholas do mato, outros mamíferos de maior porte, eram exemplos dos animais abatidos. Felizmente, não houve nenhum acidente relativamente a esta actividade, mas sustos, existiram alguns…


Eis alguns aventureiros. Da esquerda para a direita: O Estanqueiro – o nosso fotógrafo oficial, o Pires e o Lemos.

Ricardo Lemos

domingo, 10 de abril de 2011

P227: O QUOTIDIANO DE DULOMBI (II) - RICARDO LEMOS

  O dia a dia dos autóctones de Dulombi consistia essencialmente em alguns trabalhos relativos à agricultura, conforme exemplos dados no Post 226, e trabalhos de artesanato, conforme artigos publicados no Post P108 – Machadinha da paz, e no Post 116 – Novamente artesanato, texto divagando sobre artísticos colares e ainda no Post 203 – Rostos masculinos de Dulombi, onde se pode visualizar a execução de trabalhos de artesanato local.
Tinham, também, as normais tarefas da vida doméstica.
O trabalho por conta de outrem resumia-se principalmente às tarefas das lavadeiras realizado pelas mulheres-grandes e bajudas. Os homens grandes dedicavam-se também a angariar o sustento da família e, segundo me lembro, uma delas era a caça, cujo produto era vendido aos elementos da Companhia 2700. Lembro-me de alguns mamíferos que eram vendidos: facocheros, porcos-espinhos, gazelas, javalis, pacaças, etc. Também se faziam negociatas com os animais domésticos, essencialmente com galináceos, cabras, cabritos e bodes.
A estrutura militar também era uma fonte de rendimento, assim como eventuais trabalhos tarefeiros, que surgiam esporadicamente.
Depois da roupa lavada era necessário passá-la a ferro. Ao fundo, na morança, uma milícia e uma mulher grande gozam a sombra da aba da habitação. Ainda se pode ver um indígena com o indispensável rádio portátil. Um guarda-chuva “do Sporting”, é visível na cobertura da habitação. No chão, observam-se restos de brasas de carvão.

 Os autóctones de Dulombi em pleno convívio à sombra de uma frondosa árvore.
  À volta do “costureiro ou alfaiate”, as mulheres grandes assistem ao trabalho de costura do profissional, que está vestido com uma camisa branca.

 Na imagem, observa-se um homem-grande na elaboração de cordas artesanais e, “o seu aprendiz”, entusiasmado pela aprendizagem fornecida pelo seu professor…
Em primeiro plano, ainda se pode ver a matéria-prima para a confecção das cordas.

Os trabalhos domésticos: o gral, o pilão e outros utensílios são visíveis na imagem. Ao fundo, uma cabrinha observa o trabalho e o lazer das personagens.
           Mulheres-grandes, um indígena milícia, crianças e um elemento da companhia 2700, gozam a sombra e a temperatura amena de um por do sol.

 A frondosa árvore da tabanca de Dulombi e mais um aspecto dos trabalhos de pilar no gral com o pilão, geralmente realizados à sombra das árvores. Na imagem observa-se uma série de mulheres-grandes e/ou bajudas nestes trabalhos domésticos.

              O asseio pessoal, aspectos frequentemente visíveis na tabanca de Dulombi. De notar o colorido dos trajes das mulheres e o gosto pelos adornos femininos, nomeadamente nos antebraços, braços e punhos, nas orelhas e no cabelo.

 
                   O nosso furriel enfermeiro, terminou de fazer o curativo à jovem bajuda… Onde arranjaria ela a mini-saia? As mulheres-grandes posam com solenidade…
Naturalmente, esta jovem, se for viva, deverá ter mais ou menos a nossa idade. Alguém se lembra do seu nome? As mulheres-grandes já devem ter falecido e, se assim for, paz às suas almas.
Foto de 1971, em memória das gentes de Dulombi.

Ricardo Lemos

quarta-feira, 6 de abril de 2011

P226: O QUOTIDIANO DE DULOMBI (I) - RICARDO LEMOS

A principal actividade económica da Guiné-Bissau é a agricultura. As principais culturas para exportação são a noz de caju e o amendoim enquanto que o arroz, a batata-doce, a mandioca, o milho, o feijão, o sorgo e a cana-de-açúcar sustentam o mercado interno.
O amendoim é a semente comestível da planta denominada Arachis hypogaea e o seu fruto é do tipo vagem. A planta do amendoim é uma erva, com um caule pequeno e folhas trifolioladas, com abundante indumento, raiz aprumada, medindo cerca de 30-50 cm de altura.
O amendoim tem uma grande importância económica, principalmente na indústria alimentar. Algumas variedades têm uma grande quantidade de lípidos e têm sido utilizadas para a fabricação de óleo de cozinha. Em várias regiões de África, e nomeadamente na Guiné-Bissau, o amendoim é moído para cozinhar vários pratos da culinária local, que assim ficam mais ricos em lípidos e proteínas. Relembramos as receitas que apresentamos no nosso Blog, Post nº 224 – Dulombi gourmet, onde esta semente, depois de moída, é utilizada como ingrediente no frango à Dulombi.
Em Dulombi, a cultura da mancarra era feita de um modo artesanal, realizada geralmente pelas mulheres-grandes da tabanca. Havia a fase da recolha da planta, a fase do armazenamento, conforme mostra a figura abaixo, e a fase da separação do fruto.
O armazenamento da planta era feito em estruturas rudimentares que serviam simultaneamente para gerar uma reconfortante sombra aproveitada pelos indígenas e não só. Ao fundo, a cana-de-açúcar, á espera de ser armazenada em feixes cuidadosamente acondicionados em estruturas semelhantes às da imagem.

Foto de 1971: a separação do fruto da rama. Trabalho árduo das mulheres-grandes de Dulombi.

Outro produto da agricultura praticada em Dulombi era o cultivo da cana-de-açúcar.

Na imagem pode-se visualizar feixes de colmos da cana-de-açúcar, acondicionados em estruturas rudimentares, na tabanca de Dulombi.

A cana-de-açúcar é uma planta da família Poaceae. As principais características dessa família são a forma da inflorescência (espiga), o crescimento do caule em colmos, e as folhas com lâminas de sílica em suas bordas e bainha aberta.
A cana colhida é processada com a retirada do colmo (caule), que é esmagado, libertando o caldo que é concentrado por fervura, resultando no mel, a partir do qual o açúcar é cristalizado, tendo como subproduto o melaço ou mel final. O colmo é às vezes consumido in natura (mastigado), ou então usado para fazer caldo de cana e pequenos quadrados de açúcar mascavado. O caldo também pode ser utilizado na produção de etanol, através de processos fermentativos, além de bebidas como cachaça ou rum e outras bebidas alcoólicas, enquanto as fibras, principais componentes do bagaço, podem ser usadas como matéria prima para produção de energia eléctrica, através de queima e produção de vapor em caldeiras que tocam turbinas, e etanol, através de hidrólise enzimática ou por outros processos que transformam a celulose em açucares fermentáveis.
Claro que, na tabanca de Dulombi, a sua utilização era caseira ou, então, para venda nos mercados tradicionais ou empresariais.

Outro aspecto do armazenamento de colmos da cana-de-açúcar, na tabanca de Dulombi.



A mandioca


A mandioca é uma raiz com alto valor energético, possuindo sais minerais (cálcio, ferro e fósforo) e vitaminas do complexo B. Possui uma casca fina de cor castanha, sendo que a parte interna é branca. Rica em fécula, é utilizada na alimentação humana e animal ou como matéria-prima para diversas indústrias.


Na imagem, (ano de 1971): a preparação da mandioca que, depois de descascada a raiz, cortada aos pedaços e limpa, era transformada em farinha, utilizando o gral e o pilão.

Trabalho quotidiano e rudimentar realizado pelas mulheres-grandes e bajudas de Dulombi, algumas vezes com a colaboração dos elementos da Companhia 2700, conforme elucida a imagem acima.
A mandioca, assim como o arroz, a batata-doce e o feijão, estavam na base da alimentação dos autóctones de Dulombi.

Ricardo Lemos