terça-feira, 19 de abril de 2011

P228: O QUOTIDIANO DE DULOMBI (III) - RICARDO LEMOS

O dia a dia de Dulombi vivia-se calmamente. A população, por seu lado, desenvolvia as suas actividades para obter a sua subsistência no seio familiar, vivendo em comunidade e em grupos sociais, ajudando-se mutuamente em muitas das tarefas comunitárias, partilhando uma herança cultural e histórica.
Os elementos da Companhia 2700, além das suas tarefas “profissionais”, tinham os seus tempos de lazer e descanso. O convívio entre os indígenas era comum, os campeonatos de futebol eram realizados frequentemente, a leitura, os convívios musicais, os jogos de dominó e de cartas, nomeadamente jogos de sueca, de canastra – o especialista era o Barbosa, o póquer – muitas vezes a dinheiro, a bisca, etc., eram as actividades recreativas por excelência. Também a caça e pesca eram praticadas por alguns elementos da Companhia, com os riscos que se conheciam. Havia também aqueles célebres assados de cabrito, ora celebrando aniversários, ora por outras razões, repastos esses realizados muitas das vezes na oficina-auto. E nos dias mais marcantes do ano, nomeadamente no Natal e no Ano Novo, o Pub do Borges e a Messe enchiam-se de “foliões”, as “bazucas” esgotavam-se….e meia Companhia, se houvesse uma “operação stop”, ficava sem a carta de condução!!!

Mesmo assim, um dia em Dulombi, era uma eternidade…

Ora, o quotidiano de Dulombi, também o era para a rapaziada da 2700.

Como actor principal, o meu exemplo, serve de narrativa curta, inculcada como verídica e apresentada como reforço da tese demonstrativa. Sendo assim, algumas imagens apresentadas do “eu” são as imagens de muitos, só teremos de ter a imaginação de substituir o actor principal por quem nos aprouver.

Ao fundo, a nossa caserna, visualizando-se a janela com as suas cortinas. Uma cadeira artesanal – seria feita com a madeira dos pipos de vinho? Serve para mais uma sesta… A Chana – a nossa gata de estimação, não parece muita satisfeita…

A leitura e a escrita eram uma das actividades do dia a dia. Aqui se recorda o aspecto dos quartos dos furriéis. Não faltam as fotografias, um livro de leitura – neste caso trata-se do romance “ Mar morto” do escritor brasileiro Jorge Amado, livro que trata do nascimento, vida e morte do personagem Guma, uma lenda baiana, a indispensável ventoinha e, ainda, um instrumento musical dos indígenas de Dulombi, além de outros objectos pessoais. Fotografias nas paredes completam o quadro.


A leitura dos jornais, quando chegavam da Metrópole, também eram uma actividade cultural. Na imagem, o personagem lê “A Bola”, e o nome BENFICA aparece em grande plano na primeira página. Claro, visto que o Benfica venceu, nesta altura, 3 campeonatos seguidos: 1970/1971; 1971/1972 e 1972/1973.


A parte musical também não foi esquecida. O meu acordeão foi uma companhia constante em determinados momentos de lazer. Lembro-me que, certa noite, tocamos 2 horas a mesma música de Frank Sinatra “Strangers In The Night”, com letra conforme a lembrança do momento e focando muitos temas. O protagonista foi o furriel Barbosa… Foi uma noite inesquecível


Outro aspecto da actividade musical. Ao fundo, a parede do quarto emoldurada com uma catana, uma espingarda antiquíssima, fotos, corações, e outros objectos não identificados. E o tempo ia passando devagar, devagarinho…


A caça, utilizando a G3!!!, era um desporto que se praticava em Dulombi, com os riscos inerentes, relativamente ao descuido de se sair dos limites do arame farpado que circundava Dulombi. Pássaros, coelhos, lebres, galinholas do mato, outros mamíferos de maior porte, eram exemplos dos animais abatidos. Felizmente, não houve nenhum acidente relativamente a esta actividade, mas sustos, existiram alguns…


Eis alguns aventureiros. Da esquerda para a direita: O Estanqueiro – o nosso fotógrafo oficial, o Pires e o Lemos.

Ricardo Lemos

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