quarta-feira, 6 de abril de 2011

P226: O QUOTIDIANO DE DULOMBI (I) - RICARDO LEMOS

A principal actividade económica da Guiné-Bissau é a agricultura. As principais culturas para exportação são a noz de caju e o amendoim enquanto que o arroz, a batata-doce, a mandioca, o milho, o feijão, o sorgo e a cana-de-açúcar sustentam o mercado interno.
O amendoim é a semente comestível da planta denominada Arachis hypogaea e o seu fruto é do tipo vagem. A planta do amendoim é uma erva, com um caule pequeno e folhas trifolioladas, com abundante indumento, raiz aprumada, medindo cerca de 30-50 cm de altura.
O amendoim tem uma grande importância económica, principalmente na indústria alimentar. Algumas variedades têm uma grande quantidade de lípidos e têm sido utilizadas para a fabricação de óleo de cozinha. Em várias regiões de África, e nomeadamente na Guiné-Bissau, o amendoim é moído para cozinhar vários pratos da culinária local, que assim ficam mais ricos em lípidos e proteínas. Relembramos as receitas que apresentamos no nosso Blog, Post nº 224 – Dulombi gourmet, onde esta semente, depois de moída, é utilizada como ingrediente no frango à Dulombi.
Em Dulombi, a cultura da mancarra era feita de um modo artesanal, realizada geralmente pelas mulheres-grandes da tabanca. Havia a fase da recolha da planta, a fase do armazenamento, conforme mostra a figura abaixo, e a fase da separação do fruto.
O armazenamento da planta era feito em estruturas rudimentares que serviam simultaneamente para gerar uma reconfortante sombra aproveitada pelos indígenas e não só. Ao fundo, a cana-de-açúcar, á espera de ser armazenada em feixes cuidadosamente acondicionados em estruturas semelhantes às da imagem.

Foto de 1971: a separação do fruto da rama. Trabalho árduo das mulheres-grandes de Dulombi.

Outro produto da agricultura praticada em Dulombi era o cultivo da cana-de-açúcar.

Na imagem pode-se visualizar feixes de colmos da cana-de-açúcar, acondicionados em estruturas rudimentares, na tabanca de Dulombi.

A cana-de-açúcar é uma planta da família Poaceae. As principais características dessa família são a forma da inflorescência (espiga), o crescimento do caule em colmos, e as folhas com lâminas de sílica em suas bordas e bainha aberta.
A cana colhida é processada com a retirada do colmo (caule), que é esmagado, libertando o caldo que é concentrado por fervura, resultando no mel, a partir do qual o açúcar é cristalizado, tendo como subproduto o melaço ou mel final. O colmo é às vezes consumido in natura (mastigado), ou então usado para fazer caldo de cana e pequenos quadrados de açúcar mascavado. O caldo também pode ser utilizado na produção de etanol, através de processos fermentativos, além de bebidas como cachaça ou rum e outras bebidas alcoólicas, enquanto as fibras, principais componentes do bagaço, podem ser usadas como matéria prima para produção de energia eléctrica, através de queima e produção de vapor em caldeiras que tocam turbinas, e etanol, através de hidrólise enzimática ou por outros processos que transformam a celulose em açucares fermentáveis.
Claro que, na tabanca de Dulombi, a sua utilização era caseira ou, então, para venda nos mercados tradicionais ou empresariais.

Outro aspecto do armazenamento de colmos da cana-de-açúcar, na tabanca de Dulombi.



A mandioca


A mandioca é uma raiz com alto valor energético, possuindo sais minerais (cálcio, ferro e fósforo) e vitaminas do complexo B. Possui uma casca fina de cor castanha, sendo que a parte interna é branca. Rica em fécula, é utilizada na alimentação humana e animal ou como matéria-prima para diversas indústrias.


Na imagem, (ano de 1971): a preparação da mandioca que, depois de descascada a raiz, cortada aos pedaços e limpa, era transformada em farinha, utilizando o gral e o pilão.

Trabalho quotidiano e rudimentar realizado pelas mulheres-grandes e bajudas de Dulombi, algumas vezes com a colaboração dos elementos da Companhia 2700, conforme elucida a imagem acima.
A mandioca, assim como o arroz, a batata-doce e o feijão, estavam na base da alimentação dos autóctones de Dulombi.

Ricardo Lemos

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