Chegados a Bissau, e depois de cumpridas as formalidades logísticas de toda uma Companhia, partimos para o Cumeré transportados pelas Berliets.
Antes, era imprescindível dar umas voltas pela cidade de Bissau, tirar umas fotos para a posteridade e saborear um bom almoço num dos vários restaurantes da cidade.
Relembramos que as fotos apresentadas foram obtidas no ano de 1972, na ainda cosmopolita cidade de Bissau, e não nos reportaremos à actual situação da capital da Guiné-Bissau, aos novos nomes das ruas, avenidas e monumentos, como naturalmente acontece depois de uma guerra de descolonização, pois, geralmente, os símbolos anteriores tendem a serem substituídos rapidamente, sofrendo as normais vicissitudes da alteração de regimes políticos por via dos conflitos armados, havendo a adaptação da sociedade civil a transformações sociais profundas, marcadas pela necessidade de eliminar quaisquer vestígios físicos, históricos ou arquitectónicos, nascidos durante a vigência ou pela mão de outro regime anterior considerado hostil.
A Avenida Marginal e o cais de Pidjiguiti ao fundo, vendo-se o Ilhéu do Rei no horizonte.
O rio Geba na maré baixa e o lodaçal sobressaindo das suas margens. Ao fundo, é visível o Ilhéu do Rei e, no cais, um navio encontra-se a descarregar a sua mercadoria.
Avenida Marginal
Com as suas palmeiras refrescantes a embelezar a paisagem. Ao fundo, um mar de gente observa o rio onde, uma leve brisa com cheiro a maresia, refresca o ambiente. Outros, caminham descontraídos pela Avenida ou descansam nos seus bancos de cimento, á sombra das verdejantes árvores.
Está na hora do almoço…
Em primeiro plano, o Moniz e o Timóteo. Ao fundo, o Barbosa, pensativo.
No canto superior esquerdo, o Sargento José Avelino R. Teixeira, já falecido.
Um verde-branco fresquinho de “Casal Garcia”, acompanha o saboroso repasto de carne. A caixa da máquina fotográfica é visível em cima da mesa. Quem seria o fotógrafo? Do lado direito, a seguir ao Timóteo, encontra-se o Fonseca e o Lemos. Do lado esquerdo, a seguir ao Moniz, encontra-se o Soares, o Maria (condutor) e o “Seringas”.
Está na hora de dar uma volta pela cidade e rever alguns locais mais emblemáticos.
Estes são os monumentos que consegui “congelar”….
Palácio do Governador (Spínola).
A bandeira portuguesa flutua ao vento.
Excepcionalmente, não posso deixar de mencionar a destruição que sofreu este “Palácio Presidencial” durante a guerra civil de 1998, devastado e incendiado pela Junta Militar. Foi horrível.
Praça do Império e Palácio do Governador. Ao centro, Monumento ao Esforço da Raça, de autoria do Arquitecto Ponce de Castro
Liceu Honório Barreto.
Honório Pereira Barreto, nasceu em Cacheu no dia 24-04-1813 e faleceu em Bissau em 26-04-1859. Os guineenses devem as suas fronteiras a este filho de mãe guineense e pai cabo-verdiano, pois era bem provável que, se não fosse a sua capacidade de liderança perspicácia e visão, a Guiné-Bissau, que hoje é um país pequeno (36.125 km2, cerca de um terço de Portugal) seria menor ainda.
No seu tempo, a região de Casamança (ou Casamance), que hoje pertence ao Senegal, era guineense, e Honório fez de tudo para que assim permanecesse. Infelizmente, o sistema ao qual ele estava inserido era de uma inércia e languidez insuportável, e os seus alertas constantes encontraram ouvidos moucos perante as autoridades portuguesas, que anos depois de sua morte, em 1888, entregariam de mão beijada a região à França.
Honório Pereira Barreto foi administrador (o posto de governador foi criado muito depois de sua morte; administrador era o título de maior autoridade da então colónia). Levando em conta, novamente, o facto de que nem antes nem depois dele outro nativo em todo o Império português conseguiria igualar o seu feito, é de se admirar a conquista deste guineense. A melhor explicação que pode haver para três mandatos (em três épocas diferentes) é que ele era um verdadeiro estadista.
O lado obscuro da sua biografia é que, numa época em que o comércio de escravos estava a entrar em extinção (Portugal havia há muito abolido o tráfico, mas alguns focos continuavam nos seus domínios), Barreto consolidava na região de Cacheu um lucrativo comércio de variados produtos e, em especial, o de escravos.
Praça de Portugal com a estátua de Honório Barreto.
Largo com a estátua de Nuno Tristão, situada no final da Avenida da República. À esquerda, o edifício da Casa Gouveia, (actualmente é o Armazém do Povo). Ao fundo, o Palácio do Governador e a Praça do Império. À direita, ainda se pode visualizar a catedral de Bissau.
Nuno Tristão foi um navegador português do século XV, explorador e mercador de escravos na costa ocidental africana. Foi o primeiro europeu que se sabe ter atingido o território da actual Guiné-bissau, iniciando entre os portugueses e os povos daquela região um relacionamento comercial e colonial que se prolongaria até 1974.
Em 1441, Nuno Tristão e Antão Gonçalves foram enviados pelo Infante D. Henrique com a missão de explorar a costa ocidental da África a sul do Cabo Branco. Integrando um mouro que actuava como intérprete, Tristão, a expedição liderada por Nuno Tristão ultrapassou aquele Cabo, à altura o ponto mais meridional atingido pelos exploradores europeus, e durante dois anos permaneceu nas águas do noroeste africano, avançando até ao Golfo de Arguim, na actual costa da Mauritânia, onde adquiriram 28 escravos.
Em 1445 navegou até à região da Guiné, encontrando uma terra, que, em contraste com as regiões desérticas a norte, existiam muitas palmeiras e outras árvores e os campos pareciam férteis. Em 1446 Nuno Tristão desembarcou nas proximidades da actual cidade de Bissau, iniciando uma presença portuguesa na região que se prolongaria por quase 500 anos.
Nuno Tristão foi morto em data desconhecida, provavelmente no ano de 1446, durante um assalto destinado à captura de escravos, ocorrido na costa africana, cerca de 320 km a sul de Cabo Verde.
A Avenida Principal vista do Palácio do Governador. Bem lá no fundo, o rio Geba.
Continuaremos a nossa visita a Bissau, relembrando esta cidade com imagens do ano de 1972, no próximo POST.: O regresso: Dulombi-Lisboa (3ªparte).
Ricardo Lemos