quarta-feira, 9 de março de 2011

P221: QUINHENTOS ANOS DE HISTÓRIA - A. TAVARES (CCS)


Quinhentos anos de história
(Sem história…)
Quinhentos anos de escravidão e exploração,
Quinhentos anos sem luz.
Os transatlânticos
Não chegaram ao Pindjiguiti,
E os estivadores morreram…
De fome e de balas no Pindjiguiti.
Quinhentos anos de tormento
Em que as mães choraram
(E ainda choram...)
Em que os bombolons clamaram vingança,
Para que a Guiné acordasse.



Em 1972 Agnelo Regalla escreveu o poema acima que me lembra: - a história dos Guineenses; a minha primeira noite na Guiné, passada no cais de Pindjiguiti, a guardar 21 caixas de whisky; o cais que pisamos
em 01-05-1970.
Em 3 de Agosto de 1959 os estivadores indígenas de várias embarcações costeiras das firmas de Bissau manifestaram-se no cais de Pindjiguiti por melhoria salarial. Manifestação que resultou em greve,
imediatamente reprimida com barbaridade pela P.S.P., PIDE e militares, com mortos e feridos.
Era o começo da luta do povo da Guiné pelos seus direitos…
Em 23 de Janeiro de 1963 começou o início das acções militares do PAIGC com o ataque ao quartel de Tite, a sul de Bissau… a guerra de guerrilha, do chamado Vietname português, que infelizmente conhecemos.
Até 1963 o PAIGC e Amílcar Cabral acreditaram que as Nações Unidas alcançariam de Portugal o acordo para a autodeterminação dos povos da Guiné Portuguesa e de Cabo Verde.
Em 1446 Nuno Tristão descobre a Guiné. Diogo Gomes em 1460 descobre Cabo Verde.
Em 19 de Setembro de 1956 Amílcar Cabral funda o PAIGC em Bissau.
Agnelo Regalla, nasceu em Campeane, filho de Francisco Augusto Regalla e de Maria Assana Said Regalla. Licenciou-se em jornalismo em França.
Tem um grande currículo político e poemas nas antologias de poesia guineense.
Em Maio/70 conhecemos o Cabo Verdiano Francisco A Regalla comerciante em Galomaro.
Tinha sido vítima de um ataque do PAIGC em Campeane, na região de Tombali, onde perdeu todos os seus bens … em Galomaro estava a reiniciar a sua vida. Tinha um café /restaurante,
(Na foto, tirada no Bar do Sr. Regalla, poderemos ver pessoal das Transmissões. Da esquerda para a direita, em primeiro plano, o Serrano, colega desconhecido e o J. Ribeiro. De pé e pela mesma ordem, encontra-se elemento da 2701, o Alfa empregado do Bar e o Luís Claro)

negociava mancarra, castanha de caju e alugava a sua camioneta. Viajei imenso na velha e na nova viatura que comprou com os ganhos das suas múltiplas actividades comerciais. As duas viaturas de F. Regalla tinham prioridade no aluguer para os reabastecimentos do vizinho BCaç.2912.
Viajar com F. Regalla era um prazer porque tinha interessantes assuntos para conversa e era uma pessoa que transmitia confiança às nossas tropas…
O nosso camarada 1º.Cabo Escriturário Vasco Joaquim que escrevia, em stencil, as Ordens de Serviço do Batalhão, redigiu, em 1970, esta quadra:
Perto da nossa unidade
O “Regala” bem instalado
Pois não tem piedade
De tão caro vender ao soldado
Era o espírito negociador de Francisco A. Regalla que a CCaç.2700 também conheceu.
Em 23 de Março de 1972 deixámos as matas do Leste do TO da Guiné.Passadas 4 horas de voo, num Boeing 707-320C dos TAM, Lisboa recebeu-nos no Aeroporto Militar de Figo Maduro.
Pindjiguiti e Bissalanca ficaram na nossa memória como o primeiro e o último dia respectivamente que pisamos o solo da dita Guiné portuguesa.
Cumprimentos do,
António Tavares
Foz do Douro, 08 de Março de 2011

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