domingo, 23 de outubro de 2011

P268: RELÍQUIAS FOTOGRÁFICAS DO MAIA DA CUNHA

          José Maia da Cunha, ex-soldado atirador, pertencente ao 3.º pelotão, sob o comando do alferes Ravasco, mora em S. Pedro da Cova, Gondomar.
São Pedro da Cova é uma freguesia portuguesa do concelho de Gondomar, com 14,42 km² de área.

O Maia da Cunha, com as suas 62 primaveras, comemoradas no dia 18 de Novembro de 2010.



1971
2011
O Maia da Cunha exerce a profissão de pintor da construção civil, trabalhando por conta-própria.

É reformado como deficiente das forças armadas desde 02 Março de 1973, com uma deficiência de 48,16%, segundo dados do Ministério da Defesa Nacional do Exército Português.

Tem 4 filhos e 6 netos.

Um abraço do Maia da Cunha para todos os Dulombianos.

O DIA DO ACIDENTE

No dia 20 de Outubro de 1971, encontrava-se em Galomaro uma secção do 3.º Pelotão, em serviço de destacamento, sob o comando do furriel Soares. Parte dessa secção, juntamente com outros militares da CCS e alguns milícias, foram incumbidos de levar o professor local para uma tabanca perto das Duas Fontes, a fim de este dar as respectivas aulas aos indígenas. Deslocaram-se num Unimog que, perto do local onde a 1 de Outubro de 1971 aconteceu a emboscada a uma coluna da CCS, onde faleceram os nossos camaradas José Monteiro e Rogério Soares, accionou uma mina A/C, resultando na morte de 2 soldados milícias assim como vários feridos, entre os quais o Maia da Cunha.

O Maia da Cunha apenas se lembra de ser transportado de helicóptero e de uma das enfermeiras lhe prestar os primeiros socorros. Depois entrou em estado de coma durante 4 dias.

Foi transportado ao Hospital Militar de Bissau onde ficou internado até ao dia 4 de Novembro de 1971, tendo sido depois transferido para a Metrópole, para o Hospital Militar da Estrela, em Lisboa, transportado por um avião da Força Aérea.

Neste Hospital, ficou internado durante 7 meses, tendo sido submetido a várias operações cirúrgicas à perna esquerda, onde sofreu graves ferimentos (fracturas). Também sofreu fracturas no braço esquerdo, maxilar inferior e coluna (vértebras inferiores), tendo sido igualmente tratado a todos estes ferimentos no mesmo Hospital.

Estes tratamentos resultaram na imobilização total do Maia da Cunha durante longos 7 meses, tendo-lhe sido aplicado “platinas” e gesso.

Depois começou a fazer a sua recuperação de fisioterapia, que durou cerca de 1 ano, recuperação essa realizada em um hospital anexo ao da Estrela.

Na foto pode visualizar-se o Maia da Cunha, internado no Hospital Militar da Estrela, acompanhado pelo falecido Brilha, também evacuado, e ex-1.º cabo do 3.º pelotão. O Virgílio Luís Pinheiro Brilha faleceu em Espanha, num acidente de viação, por volta do ano de 1991.
Foi evacuado devido a ter sofrido ferimentos resultantes do rebentamento da mina a/c no percurso Dulombi/Galomaro.


Nesta foto, o Maia da Cunha está acompanhado do seu avô, irmãs e sobrinhas e ainda dos camaradas Brilha e Fernandino da Silva Almeida.
O Fernandino sofreu graves ferimentos aquando do violento tornado que assolou Dulombi, no dia 25 de Abril de 1971, pelas 17 horas, tendo sido atingido pelas chapas de zinco pertencentes às coberturas das casernas, o que resultou ter sido evacuado para a Metrópole com uma fractura exposta de uma perna.


Elias dos Anjos Rodrigues
O Elias, ex-soldado atirador, foi evacuado para a Metrópole em Novembro de 1971, devido a ter sofrido lesões por estilhaços resultante de uma armadilha pertencente à própria segurança de Dulombi, aquando do regresso de uma operação de patrulhamento.
Neste lamentável incidente, também foi atingido o 1.º cabo Anselmo Natalino Rodrigues Ferreira, resultando-lhe pequenos ferimentos, não necessitando de ser evacuado.


A história do “Piruças”

O Maia da Cunha comprou um periquito a um indígena por 2,5 pesos, tendo-o baptizado com o nome de Piruças. Manteve-o preso durante 15 dias, atado a um cordão de uma bota, num poleiro construído pelo Maia. Passados esses 15 dias, o Piruças conseguiu libertar-se do dito cordão, com o seu próprio bico, e jamais foi preso.
O periquito habituou-se ao poleiro e ao Maia da Cunha, ao ponto de acompanhar o Maia ao refeitório, ficando á sua espera, a chilrear à porta. Quando havia possibilidades, o Piruças subia pelas pernas do Maia da Cunha e empoleirava-se no seu ombro, conforme se pode atestar pela imagem acima.
Quando o Maia da Cunha foi evacuado, nunca mais soube o que aconteceu ao seu amigo de duas asas.


Na foto: Elias dos Anjos Rodrigues, António Bessa Nunes, furriel Timóteo, Fernando Ramos, Maia da Cunha, Alfredo Lopes Ribeiro e o “Matosinhos” do 1.º pelotão.


O Maia da Cunha e o “Russo”
O Firmino da Silva Pereira, de Pinhão Donelo, tinha a alcunha de “Russo”.
O “Russo” era o homem do morteiro 81, pois quando havia uma flagelação do inimigo com as suas “costureirinhas” lá ao longe, logo saltava do seu abrigo para o morteiro de longo alcance, garantindo que alguma das suas granadas tinham alcançado o inimigo. Até corria o boato que o IN o queria capturar devido à sua perícia no morteiro!


Na foto: furriel Estanqueiro, Evaristo Borges, Dias Ferreira, Joaquim Azevedo Costa, da Trofa e já falecido, o “Taipas” (José Marques Miranda) e o Maia da Cunha com um apetite voraz!


O Poço e a história dos peixes

Este poço foi aberto nas proximidades da tabanca de Dulombi, pela necessidade da Companhia ter reserva de água de consumo. Foi aberto com uma profundidade aproximada de 5 metros.
Conta o Maia da Cunha que, quando a abertura do poço estava na profundidade de 3 metros, terminaram o trabalho desse dia. No dia seguinte, chegados ao poço para continuarem os trabalhos, ele estava já cheio de água e com dezenas e dezenas de peixes, que os indígenas denominavam “barbatanas” e que eram do tamanho de um carapau médio. Logo os autóctones aproveitaram para apanhar o máximo possível desses peixes para consumo próprio. Como é que eles lá apareceram?
Depois a água tornou a desaparecer, e os peixes também, e então concluiu-se o poço com a profundidade ideal para se obter água no tempo da sua escassez noutros locais de recolha.
Foi próximo deste poço que a 18 de Fevereiro de 1971, um Unimog da Companhia accionou uma mina A/C, falecendo os camaradas José Dias de Sousa e António Vasconcelos Guimarães.
Na imagem visualiza-se o Maia da Cunha e o Dias Ferreira.


Ponte sobre o Rio Fandauol
Na foto: condutor Carvalho (falecido, de tronco nu); Joaquim Azevedo Costa, da Trofa, (Falecido); Taipas, encostado ao pneu; Luís Vasco Fernandes, em pé, de boné (Falecido em 5/10/1971, por accionamento de uma mina A/C, na picada Dulombi-Galomaro); Dias Ferreira (Falecido); Maia da Cunha; 1.º cabo Brilha (Falecido).
Resumindo: nesta foto temos 5 camaradas já falecidos.


No abrigo n.º 4
Na foto: furriel Pires, furriel Timóteo, Ramos de Vila do Conde, Maia da Cunha, Nunes, Anselmo Natalino, Ribeiro e o Matosinhos


Descansando numa operação de patrulhamento
Na foto: Maia da Cunha, Natalino Ferreira, Dias Ferreira e Portugal. Pode visualizar-se uma metralhadora HK 21, um morteiro 60 mm e um rádio das transmissões.


A visita do Maia da Cunha a Dulombi, em 1997

O Maia da Cunha, o falecido Dias Ferreira e o Alferes Correia, assim como outros camaradas de armas de outras companhias, fizeram uma visita à Guiné, nomeadamente a Bissau, Bafatá, Bambadinca, Galomaro e Dulombi em Fevereiro de 1997.
Embarcaram em Lisboa num avião da TAP, no dia 9 de Fevereiro e regressaram no dia 17 de Fevereiro, a partir do aeroporto Osvaldo Vieira, em Bissau.
A visita durou 9 dias.
Encontraram a cidade de Bafatá, desprovida de movimento. Não havia local onde se pudesse beber uma cerveja, tomar um café ou comer algo.
A visita a Dulombi aconteceu numa tarde.
O regresso a Bissau, depois de cada visita, era imprescindível.

As casernas, em 1997




Tabanca de Dulombi, 1997


O 1.º nome do heliporto de Dulombi foi “Heliporto Capitão Carlos Gomes”
Depois, por ordem do General Spínola, foi mudado para “Heliporto de Dulombi”.
Nesta foto de 1997, visualiza-se a placa, já destruída pelo tempo.


A nova ponte sobre o Rio Fandauol, perto de Dulombi. Conforme já vimos, em Posts anteriores, a primitiva foi construída com troncos de palmeiras.


Estrada Galomaro – Duas Fontes
Local, onde no dia 20 de Outubro de 1971, foi accionada uma mina A/C, que vitimou o Maia da Cunha.

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