quarta-feira, 4 de julho de 2012

P384: RELÍQUIAS FOTOGRÁFICAS DO AMÉRICO ESTANQUEIRO


Américo da Conceição Estanqueiro, ex-furriel atirador do 4.º pelotão, mora em Lisboa.

Américo da Conceição Estanqueiro nasceu na aldeia de Vendas de Maria, concelho de Alvaiázere, distrito de Leiria.
Assentou praça em 1968, fez a recruta no Quartel das Caldas da Rainha e a especialidade (atirador) em Tavira.
O seu primeiro contacto com a Fotografia foi através do irmão António da Conceição Estanqueiro, na altura empregado da Kodak. Este tinha acabado de fazer a sua comissão em Moçambique, durante a qual ganhou dinheiro fazendo fotografias dos companheiros de armas. Este deu-lhe esse exemplo e ensinou-o a dar os primeiros passos, já tendo como propósito ganhar o seu próprio pecúlio durante o serviço militar, na actividade fotográfica.
Começou logo a concretizar o seu objectivo durante a recruta, revelando as imagens na sua casa em Lisboa, quando vinha de fim-de-semana. Era tudo a preto e branco. Logo que embarcou montou um laboratório a bordo; embora a água fosse escassa, e as lavagens muito precárias (o que explica o mau estado de algumas provas), mas o que importava era a utilização imediata e rentável. O negócio aumentou significativamente quando chegaram ao aquartelamento na Guiné, com solicitações constantes de retratos, mais ou menos compostos com elementos locais, para mandar à mãe, à namorada, aos amigos, quem saberia se não seriam os últimos….Trabalhava com uma câmara Minolta 6x6 cm, de objectivas duplas, e imprimia papel Agfa lustroso, seco por suspensão, nos formatos 10x15 cm ou 9x14cm, o que explica os enquadramentos rectangulares das provas sobreviventes.
Um mês antes de regressar deu todo o material ao soldado Adriano Francisco, natural de S. Pedro do Sul, que o tinha ajudado nos trabalhos fotográficos e vendia as fotografias. Infelizmente, o Adriano acompanhou as malas, enquanto o resto da Companhia ficou no aquartelamento, à espera da ordem de embarque, e veio a falecer em Bissau, vítima de uma crise súbita de tuberculose, até então tinha tido como um pequeno problema de garganta que lhe provocava uma ligeira tosse.
O que aconteceu entretanto aos cerca de 6.000 negativos realizados durante o serviço militar? Deitou-os fora, logo que perdeu o contacto com os camaradas e considerou que se tinham tornado inúteis. Nem um sobreviveu para amostra. Resolveu então conservar, das provas impressas em África, um conjunto de imagens que mostrasse às suas filhas a Viagem feita pelo pai, Viagem que começou no Cais da Rocha e acabou no aeroporto. O conjunto de provas que guardou (algumas provas soltas e um álbum) é um espólio característico de uma viagem de guerra.
As más condições de impressão e as dificuldades de processamento, aliadas à composição química das águas locais, explicam a qualidade média das provas, que são na sua grande maioria de pequeno formato. Mas pelo que existe se pode concluir que os negativos terão sido de boa qualidade. Já os enquadramentos e acções contidos nas imagens demonstram um fotógrafo profissional experiente, com a escola de reportagem de “casamentos e baptizados”.
Afinal a Viagem só termina quando se arrumam as bagagens e as memórias (José Pessoa).

Um abraço para todos os dulombianos, do Américo Estanqueiro 
 O Américo Estanqueiro comemorou as suas 65 primaveras no dia 15 de Abril de 2012.
Esta foto foi obtida na Fundação Mário Soares por altura da inauguração da sua exposição fotográfica "Memória Guerra Colonial".

 Despedida
Reconheço o Coronel Carlos Gomes (em 1.º plano), fur. Timóteo, fur. enf. Helder Coelho, fur. Maricato e fur. Tancredo Pedroso


 A bordo do “Carvalho Araújo”
Ao lado do Estanqueiro encontra-se o Diogo e com boina o Cândido Nunes.


 No Depósito de Adidos de Brá

 Estanqueiro experimentando seus dotes musicais

 Municionamento de um lança-granadas foguete “Instalaza”com ajuda do Adriano Francisco

Paragem no mato. Estanqueiro na companhia de Adriano Francisco

Chegada de um helicóptero. De costas o Estanqueiro fotografa a tripulação na companhia do nosso Comandante e alf. Barros

Estanqueiro e Fonseca numa tabanca com elementos da população local

 Barbearia improvisada
Maia da Cunha, Jorge Cunha e Folhadela executam rapanço ao Estanqueiro

Tocando viola em cima de um abrigo

Javali caçado nos arredores de Dulombi

 Transportando gato bravo pouco antes, por si, abatido

Metralhadora no extremo sul do aquartelamento de Dulombi

Refeição no decurso de uma operação.
Fur. Fonseca, Marinho Alves, Fernandino e fur. Estanqueiro

NOTA - O Américo Estanqueiro também pode ser visualizado em fotos nos seguintes Posts: 242, 249, 268, 271, 287, 295 e 349.

Sem comentários: