segunda-feira, 22 de março de 2021

P809: CONVERSAS COM GIL RAMOS

Pelo trabalho realizado no "nosso" Dulombi; por ser filho dum dos mais ilustres membros da 2700, faz todo o sentido a transcrição deste texto. O nosso preito ao Gil Ramos e a nossa vénia pela autorização da utilização do texto e entrevista a NARRATIVAS HUMANAS na pessoa de Magda Stela. 


Uma viagem em troca de uma missão

Caminhar nesta história é um exercício de esperança. As vozes indistintas pela África negra que nos capturam para dentro dela, são também as que fazem deste um retrato impressivo pela mais bela expedição sem fim, singularmente feita de muitos regressos. Uma viagem que nos faz exceder, atravessar e perder lugares, pelo brilho do olhar do Gil, pela sua voz carregada de identidade, pela indiferente gratuitidade das suas memórias.

Uma conversa inevitavelmente interessante com o Gil Ramos, um dos fundadores, voluntário e rosto da Missão Dulombi, uma organização de ajuda humanitária. O também realizador e produtor de cinema documental, apaixonado pela fotografia analógica, é o voluntário que voltou a Dulombi, a aldeia Guineense onde o pai esteve mobilizado durante a Guerra do Ultramar. Uma aventura que acabou por se transformar em missão humanitária.

Das quase 50 vezes que foi e veio carregou toneladas de alimentos, centenas de medicação, material escolar… e muitos sonhos. A mais de 5 mil quilómetros de casa, lá em Dulombi, o Gil Ramos equipou um hospital, construiu uma escola, lutou pela construção de instalações para albergar voluntários e pelo apoio permanente às 150 crianças em idade escolar desta aldeia.

Esta África de que o seu pai lhe falara não estava nos planos. A ideia era atravessar o deserto e ver a África negra pela qual se tem tanto de fascínio, como de medo. Achava que fecharia ali o ciclo. Era apenas uma viagem. O problema é que não aconteceu assim. Tornou-se mais forte voltar. A Guiné procurou por si, chamou-o para a missão da sua vida. Hoje, a Missão Dulombi tornou-se a experiência de uma tribo, perdida no meio da Guiné Bissau, que o trata como filho.

Entre viagens sem mapa, Dulombi abeirou-se de si pelo seu perfume especial. Escutar a vida a partir desse lugar é, segundo este admirador de céus vastos, um privilégio. Quando o Gil vai, parte no rasto de um silêncio luminoso. Esse, que diz ser feito de uma luz diferente.

Tenho para mim, que o Gil não sabe mesmo que a grandeza da Missão Dulombi não advém apenas do lugar. Esta dimensão é feita também do seu otimismo radioso, da sua felicidade sóbria, dos seus olhos sensatos que sabem ver com o coração, do rosto calmo e maduro que traz, do inaudível no audível que escutamos em si. É esta junção de fatores que trouxe ao infindo da viagem, pelos meios do caminho, a força de outros voluntários, o irromper de uma geração nova em prol desta missão.

Caminhar nesta história é um exercício de esperança. Assista à conversa (parte 1) com Gil Ramos.

Poderão aceder à entrevista clicando neste link:

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