terça-feira, 20 de janeiro de 2009

P96: LEVANTAMENTO DE RANCHO


"QUEM COMER ESTA MERDA LEVA COM A TERRINA NOS CORNOS"
Eis o santo e a senha dum levantamento de rancho ocorrido no aquartelamento pelos finais de 1971.
Nesse dia o 2.º Pelotão deveria, ainda, estar em operação mas como o seu objectivo tinha sido cumprido, isto é, percorridos todos os pontos que constavam no plano - essencialmente o patrulhamento do Jifim -, o Alferes Barata permitiu que entrássemos mais cedo no Quartel, tendo contudo cada um de nós comido a ração de combate e não o almoço servido no refeitório. Alguém, cujo nome não me recordo, pediu-me para trocar a refeição dele, no refeitório, pela minha ração de combate, o que aceitei, assim me envolvendo em total ignorância numa iniciativa com a qual concordava mas para a qual não tinha sido ouvido nem achado. No dia seguinte o 2.º Pelotão estava de serviço ao quartel e um grupo de camaradas, assustado com rumores de represálias, que prolongariam a comissão para além do tempo previsto, dirigiu-se-me (cabo de dia) apelando a que se formasse a Companhia e que em nome dela se pedisse desculpa ao nosso Capitão.
Mais tarde, um antigo camarada de armas, que se encontrava presente no convívio da 2700 e cuja identidade só revelarei se por ele for autorizado, chamou-me traidor por ter pedido desculpa. Portanto, o santo, a senha, a discussão, a decisão e a execução do levantamento do rancho resume-se àquela frase inicial: QUEM COMER ESTA MERDA LEVA COM A TERRINA NOS CORNOS.
Quanto aos louvores, que naquelas circunstâncias, e naquele tempo julgava merecer, depressa o tempo se encarregou de mostrar quão absurdas eram.

P.S. - O nome do verdadeiro responsável, provavelmente até faria rir um baga-baga, e certamente faria pasmar grande parte da Companhia.

António Fernando Pinto Almeida
1.º Cabo 190311/69
2.º Pelotão
Vila Nova de Gaia, 19 de Janeiro 2009

Á guerra não ligues meia
Porque alguns grandes da terra
Vendo a guerra em terra alheia
Não querem que acabe a guerra.
António Aleixo

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