segunda-feira, 14 de março de 2011

P223: RITUAL DO NASCIMENTO EM DULOMBI - RICARDO LEMOS

O rito fundamenta toda a realidade, define a organização da vida social e é fonte de memória e conhecimento. Há rituais para celebrar o fim das estações da chuva ou seca, outros para comemorar a chegada das colheitas; há rituais de casamento e vitórias em guerras com outras tribos. Revestem-se de grande importância para as famílias os rituais de iniciação ou passagem para a vida adulta dos jovens e também o nascimento de crianças. Os rituais estão ligados aos mitos. O ritual e o mito actualizam o passado e ajudam a modificar e compreender o presente.
A população guineense é constituída por uma variedade de etnias com tradições (usos e costumes) extremamente abrangentes. As etnias são mais de 20, com línguas, estruturas sociais e costumes distintos. A maioria da população vive da agricultura e professa religiões tradicionais locais. As línguas mais faladas são o Fula e o Mandinga, de populações concentradas no Norte e no Nordeste. Outros grupos étnicos importantes são os Balantas e os Papéis, na Costa Meridional e os Manjacos e os Mancanhas, nas regiões costeiras do Centro e do Norte.
Apesar de Portugal, durante o período de Colonização, ter implantado uma política baseada na submissão e desvalorização da cultura autóctone, com a assimilação forçada de vários hábitos ocidentais, mesmo assim, as Comunidades continuaram a manifestar todos os seus aspectos de expressão cultural (baseada no sagrado) – ritos, mitos, cultos, oferendas, preces, símbolos, canções, danças, nascimento, baptismo, casamento, circuncisão, excisão e morte.
Relativamente às Religiões, temos: crenças tradicionais africanas 50%, Islamismo 45% e Cristianismo 5%.
Ritual do nascimento em Dulombi: a criança e as mulheres-grandes.
De salientar que a criança tem uma espécie de massa esbranquiçada colocada na cabeça.

Aspecto da cerimónia.

As mulheres-grandes, vestidas a rigor com os seus trajes multicolores, preparam a refeição festiva. Não faltam os almofarizes e os ingredientes para a confecção dos pratos tradicionais Dulombianos. Em cima do almofariz situado à direita visualiza-se uma bacia com uma massa esbranquiçada assim como uma mulher-grande transportando objectos utilizados na confecção dos alimentos.
Outro aspecto do ritual. As mulheres-grandes reúnem-se à volta da criança. Ao contrário do ritual fúnebre, já apresentado no nosso Blog – Post P210, os homens-grandes não estão presentes.
A cerimónia é finalizada com umas voltas ao redor da morança, executadas pelas mulheres-grandes e bajudas, ao som de cânticos e/ou sons estridentes. De salientar que, a criança do ritual deverá ser um rapaz, pois uma sacola e uma arma é transportada por uma das participantes, como ritual, expressando simbolicamente que o futuro jovem seja um bom guerreiro.
Interessante e extra ritual, são os camuflados das tropas de Dulombi, que se visualizam na fotografia, e que se encontram a secar ao Sol ardente da Guiné.
Ricardo Lemos

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Lemos
Parabens pelo teu relato historico. Rendo a minha homenagem à tua memoria e oportunidade do testemunho que jamais me lembraria !!!
Carlos Moniz