quinta-feira, 13 de outubro de 2011

P266: ADEUS MUSSA

 A vida tem disto...
O Mussa era aquele puto amoroso, filho da Adam e do chefe de Tabanca, que eu, de certa maneira, um dia "perfilhei".
Houve uma altura que servindo-me de um frasco de água oxigenada subtraido da Enfermaria e com um algodão embebido no líquido fui metodicamente "lavando" o cabelo do Mussa. Passadas algumas semanas tinhamos um bebé louro com um look espectacular e encantador.
Passaram-se estes tempos e, ano passado, o Gil, na sua "Missão Dulombi" veio a descobri-lo, em Galomaro.
Trouxe-me, do Mussa, uma mensagem que me comoveu: "Não hei-de morrer sem ver o alferes Barata".
Há tempos surgiu-lhe uma mazela e mais uma vez o incansável Gil com os conhecimentos que adquiriu na Guiné tinha já tudo tratado para o Mussa ser operado numa clínica privada a uma hérnia que o incomodava.
Contudo...
Ontem, ao ligar para fazer o ponto de situação da intervenção cirúrgica, do outro lado da linha surgiu a indesejável notícia: "O Mussa morreu".

Na, para breve, viagem que tenho planeada à Guiné um dos motivos principais da sua realização era também o facto de proporcionar ao Mussa "ver o alferes Barata" e vice-versa.
Afinal, tal já não será possível. A vida tem disto...
Descansa em paz, "Anjo Louro".

1 comentário:

Gil Ramos disse...

(de lágrimas a correr-me pela cara, escrevo isto)

Quando encontrei o Mussa, em casa de Brema Baldé - Régulo de Galomaro - tinha a certeza que a Missao Dulombi se tinha tornado num enorme furacão de pequenas missões.

O meu pai (Ramos) tinha-me pedido para tentar encontrar este e aquele, o Pedro Mesquita - um amigo meu de longa data mandou um abraço ao Pedro Djassi (DJ de Bissau que tinha estudado no Porto), que fiz questão de dar pessoalmente, o Barata perguntou pelo Mussa...

O Mussa fez os 20 Km que separam Dulombi de Galomaro, de mota, debaixo da maior tempestade que alguma vez presenciei...

Quando visitamos Dulombi tivemos honras de chefe de estado. Objectivo de chegar a Dulombi cumprido, prometi a Mussa que iria fazer chegar as suas palavras ao Alferes Barata, prometi ainda que tudo iria fazer para ajudar a sua aldeia...

De facto, a minha ajuda para o tentar operar, chegou tarde, mas há uma coisa de que ainda vou a tempo: honrar a minha promessa de que enquanto fosse vivo e tiver condições para o fazer, visitaria Dulombi, anualmente, levando aos seus filhos um pouco de mim (e do meu primo Ricardo).

Barata, esta simples homenagem que lhe está a fazer, chegará a ele, de uma forma ou de outra.

Um abraço deste seu amigo.

Gil