sábado, 23 de janeiro de 2010

P145: PAIGC EM DULOMBI


Passo a transcrever intervenção do António Morais (meu conterrâneo pertencente à última Companhia que esteve em Dulombi).

Depois da nossa Companhia, ser deslocada para a Cop 2/Nova Lamego, ficámos entregues a nós próprios; o gerador deixou de trabalhar e por via desta avaria tinhamos noites escuras como bréu. Abastecimentos não havia. Por parte do Batalhão, em Galomaro, esqueceram-se que havia alguém no destacamento de Dulombi, do qual eram responsáveis. A nossa alimentação, passava pela dobrada liofilizada, que precisava estar 24 horas em água para voltar ao normal, e era cozida com feijão e chouriço, enlatado, nas tais latas de azeite. Recordam-se???!!! Um agradecimento muito grande, tal como ele, Grande, ao nosso Padeiro, pois todas as manhãs, tinha pão quente para o nosso pequeno almoço, extensível ao nosso Cozinheiro, espera, um foi substituído por outro pois arranjavam sempre alguma coisa para as nossas refeições. Tínhamos sempre petiscos. Todas as manhãs depois do pequeno almoço era preciso carregar água, para nosso consumo. A água do poço onde nos íamos abastecer, começou a ficar castanha, cor de terra. Como bom beirão, o FBarata entende, há que limpar e cavar mais fundo, para termos água limpa. No decurso desta operação, que foi levada a cabo por seis bravos durante uma manhã inteira, foram avistados nestas águas agitadas uns periscópios do IN que observavam o nosso esforço. Eureka. Não era IN, eram marcianos vestidos de cores esverdeadas. Fomos nós que primeiramente descobrimos o ET. Qual Spilberg!!! O Dulombi encontrou-o.
Pois meus Caros, os animaizinhos acabam esfolados sem a sua pele verde, fritinhos com arroz, deu um belo almoço. Pois eram, meus amigos, rãs. Rãs, naquele tempo não iam à mesa de rei.
O Jamanca,(o pai das bajudas) quando apanhava uma gazela nem pelo quartel passava nem a prova dava. Quando era javali tinhamos direito a comê-lo pagando 350 pesos. O nosso padeiro fazia milagres no seu forno assando o dito mesmo com cheiro e sabor a barrascom.
Nos blogs fala-se muito no macaco-cão, em duas ocasiões o nosso amigo Jamanca, presenteou-nos com o dito primáta, confesso, perante vós, que nunca lhe tomei o paladar, pois depois de esfolados pareciam autênticos fetos humanos.
Por duas ou três vezes, mandámos o filho do Jamanca, (recordam-se da Comp. 3491, o miúdo que ajudava na cozinha) de bicicleta, a Galomaro, procurar alguma coisa para nós comermos e numa dessas vezes também medicamentos, pois encontrava-me com paludismo. Durante dias sofri com 40º de febre .
É nesta agonia que permaneço deitado na cama quando ouço uma certa agitação. Entre esta agitação e as fotos do encontro com os elementos do PAIGC medeia sensivelmente uma hora. Valeu-nos para a história o nosso fotógrafo, o Enfermeiro Óscar. (Óscar gostaria de dar-te um abraço, meu velho, aparece). Encontrava-me debilitado, fui o último a chegar ao encontro. Toda a gente foi à mata conhecê-los. O contacto deu-se quando dois deles, à civil, percorriam um trilho que dava ao quartel. Abordaram um ou dois elementos da população, perguntando onde era o Dulombi.
Depois das fotos, convidámo-los para o quartel, hesitaram, hesitaram, não sei se havia mais alguém a assegurar e a fazer segurança na retaguarda se o objectivo não era entrarem no Dulombi.
Confesso, que os meus tímpanos não se sentiram bem quando ouviram falar francês entre eles.
Depois da hesitação alguns vão de regresso, os outros, penso os responsáveis, vão connosco para o quartel.
Foram bem recebidos por nós e pela população, comeram e dormiram no quartel.
Por agora é tudo. Vou enviar-te um aerograma que relata os acontecimentos mais próximos.

1 comentário:

Luís Dias disse...

Caro Fernando Barata

Também já falei com o António Morais, por E-Mail. No blogue da minha companhia, num postg publicado a 23 de Setembro de 2008, um camarada da CCAÇ3547, de Contuboel, Batalhão de Bafatá, relata que esteve no Dulombi, entre Abril e Maio de 1974 e quando de lá sairam apenas ficou um pelotão de milícias. Assim, fico sem saber, quem foram efectivamente as últimas tropas brancas a deixa o Dulombi.

Um abraço

Luís Dias