terça-feira, 31 de março de 2009

segunda-feira, 30 de março de 2009

P112: CARLOS CORREIA (II)


A fim de recuperar, identificar e transferir para o Cemitério de Bissau os restos mortais de 17 militares sepultados no Gabu (ex-Nova Lamego), encontra-se na Guiné o "nosso" Correia, inserido numa equipa especializada de 8 elementos. Sinto que é um pouco da nossa Companhia que está, também, contribuindo para tão nobre missão. Trinta e sete depois a C. Caç. 2700 volta à Guiné.
Aconselho-vos a leitura do suplemento "Gente" do Diário de Notícias, de 28 de Março passado.

(Para melhor visionamento da notícia cliquem sobre a imagem)

quarta-feira, 25 de março de 2009

P111: RECEITA DO RUSSO (PERNINHAS DE RÃ)


Este Post prende-se com o anterior (Perninhas de Rã) enviado pelo Timóteo.

Ingredientes:
Pernas de rã, leite, farinha de trigo, 2 colheres de sopa de manjericão chiffonade, sal, pimenta, glutamato monossódico, manteiga, paprica, alho, sumo de limão e maionese temperada.
Preparação:
Põem-se as pernas de rã de molho em água salgada durante 15 minutos. Ao cabo desse tempo, escorrem-se e enxugam-se bem num pano. Humedecem-se, então, num pouco de leite e passam-se por farinha temperada com sal, pimenta e paprica. Entretanto, frita-se em manteiga um dente de alho esborrachado, numa frigideira, em lume não muito forte. Quando o alho principia a escurecer, retira-se e deitam-se as pernas de rã, dourando-as bem de ambos os lados. Desengorduram-se em papel absorvente e servem-se com sumo de limão ou - ainda mais agradável- com maionese temperada com caril.
P.S. - O manjericão chiffonade, glutamato monossódico, paprica e maionese compravam-se na Casa Gouveia, em Bafatá.

P110: PERNINHAS DE RÃ


Quando éramos jovens o amigo RUSSO dizia-me: "qualquer dia vou arranjar um petisco com umas perninhas de rã" e perguntou-me se eu queria comer. Para não sofrê-lo ia dizendo que sim.
Certo dia aparece-me o amigo RUSSO e diz-me: "já tenho as perninhas, vou arranjá-las". Decidi ir ver como era. Já o RUSSO tinha uma fogueira junto ao abrigo 3, um tacho cheio de pernas (acreditei que eram de rãs e não sapos) uma frigideira e toca a cortar rodelas de cebolas. Frigideira para o lume, azeite e sei lá mais o quê, vamos mexendo até aloirar a cebola, mas houve um imprevisto no cozinhado. Começaram a rebentar munições por baixo da fogueira. A mesma foi acesa junto á HK21 e as balas que caiam no meio do pó ninguém as apanhava, mudou-se a fogueira e o cozinhado continuou. Uns minutos passados olho para a perna do RUSSO, escorria sangue vindo de baixo dos calções, levantou os calções e lá estava uma bala espetada, tirou-a e disse-me que não era nada.
Cozinhado pronto e lá fomos para a messe, havia mais convidados mas não me lembro deles, estávamos petiscando quando chegou o amigo ESTANQUEIRO, perguntou o que estávamos comendo, dissemos que eram perninhas de pombo, pediu autorização para se sentar, dissemos que a multa era uma rodada de bazukas. Como vinha com apetite atirou-se em força. Depois do repasto, que estava bom, perguntámos ao ESTANQUEIRO: "então, não gostavas de pernas de rã?"
Ele bem queria vomitar, mas o estômago aceitou o manjar tão bem que foi impossível deitá-lo fora.
Naquele dia aprendi que daquilo que gostamos dificilmente deitaremos fora.
Um abraço
Timóteo

terça-feira, 24 de março de 2009

P109: PRÓXIMO ENCONTRO DA COMPANHIA - 24 de MAIO



Daqui a uns tempos receberão notícias do Timóteo. Entretanto, reservem esta data para o Convívio da 2700.

domingo, 22 de março de 2009

P108: MACHADINHA DA PAZ



Há dias vasculhando o sótão de casa deparei com o machado que reproduzo. Foi a prenda que eu levei à minha mãe da primeira vez que me desloquei, de férias, a Portugal. A razão deste Post prende-se com o facto de que este e outros machados terem sido feitos por um habitante de Dulombi e pelo seu significado já que seria praticamente o único bem tangível elaborado por eles. Como todos sabem a população autóctone de Dulombi não era minimamente auto-suficiente gravitando à volta da estrutura militar que disponibilizava, fundamentalmente, uma quantidade mensal de arroz, alimento que só tinha acompanhamento quando algum dos habitantes conseguia caçar alguma peça (javali ou pacaça) ou quando algum galináceo estava apto a ser imolado. Saliento que a cunha do machado é feita em alumínio (bauxite), mineral existente em abundância na região de Madina do Bóe. Os rendilhados eram feitos com um ponteiro, trabalho minucioso e demorado. Mas, também, tempo era coisa que não faltava por aquelas paragens.

sábado, 7 de março de 2009

P107: RANCHO DO LEMOS - CHULA DOS VETERANOS



Dedicada a todos os elementos da 2700 acaba de me ser enviada mais uma faixa do Rancho do Lemos, com o título "Chula dos Veteranos". Para se poderem deleitar com esta chula deverão na parte esquerda do Blog, na sessão: "ALGUMAS FAIXAS DO RANCHO DO LEMOS" clicar sobre a Track n.º 04. Verão que não foi tempo perdido.

quinta-feira, 5 de março de 2009

P106: NINO VIEIRA


Durante a guerrilha, Nino Vieira foi responsável operacional pelo sector Leste da Guiné. Provavelmente, as flagelações que sofremos bem como as 3 minas A/C que accionámos não tiveram a sua participação directa mas terá partido dele a ordem de execução das acções que acabo de referir. Apesar de tudo isto, enquanto combatente que lutou pela libertação da sua terra, rendo-lhe, nesta hora, a minha homenagem. Atendendo ao estado em que aquele País se encontra se terá valido a pena semelhante luta não cabe neste momento e neste Post, essa análise.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

P105: CARTA ABERTA/DESAFIO AO ESTANQUEIRO


Caro Estanqueiro

Primeiramente o meu pedido de desculpa pela utilização desta via "internáutica" para te dirigir esta mensagem/desafio.
O desafio que te proponho era fazeres a revisitação fotográfica, através da tua Minolta 6X6, da exposição que realizaste na Fundação Mário Soares.
Sei que rostos como o do Semba, da Bela ou da Spaghetti, por razões inexoráveis da vida, já não os conseguirás voltar a expressar naquele papel Agfa lustroso, mas outros sorrisos por lá encontrarás, como que de forma cúmplice dizendo: voltem.
Como estará a cratera provocada pelo rebentamento da mina A/C em Padada? Como estará a Messe e a Caserna? Sobrará alguma carcaça de Unimog?
Aceitas o desafio?

Um abraço do
Fernando Barata

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

P104: GALOMARO DULOMBI EM BICICLETA

Há dias telefonando ao Almeida para lhe agradecer o envio do "Rapanço em Galomaro", o "nosso Cabo" rememoriou-me um episódio digno de narração.
Era mais uma coluna, como tantas outras, a Bafatá para recolha do almejado correio bem como géneros alimentícios. No regresso a Dulombi houve uma paragem em Galomaro provavelmente para recolher mais algum correio ou receber alguma instrução do nosso comandante, Tenente-Coronel Pimentel.

Não posso garantir se foi já em Dulombi mas presumo que a meio do caminho alguém notou que faltava o Russo. Como a noite já se punha, era um risco voltar atrás, até porque o Firmino lá se desenrascaria por Galomaro e em breve haveria nova coluna que o recambiaria. Mas eis que quase que não tinhamos ainda descarregado os Unimogs e aparece o Russo, de bicicleta.

Que se passara, então? Chegado à porta de armas, em Galomaro, e verificando que as viaturas já tinham partido, não esteve com meias medidas. A primeira bicicleta que encontrou chamou-lhe sua e ala que se faz tarde rumo a Dulombi. Impressiona-me o risco em que ele se constituiu. Facilmente poderia ser apanhado à unha pelos turras. Passados dias lá apareceu o Mamadu a reivindicar o seu meio de transporte.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

P103: RAPANÇO EM GALOMARO - POR PINTO D'ALMEIDA



Por volta de Junho/Julho 1971, o orgulhoso e militarista Capitão Santos, Comandante da CCS, ao passar revista de formatura, vira-se para o Furriel Moniz e dispara: "Já que você não corta o cabelo, mande cortar aos seus homens" e prosseguiu até mandar destroçar.
Foi uma situação que provocou uma expressão de gozo a alguns elementos da CCS presentes na formatura que, sempre nos dispensaram um tratamento discriminatório, ancorados no facto de supostamente sermos gente do mato.
Mesmo antes de chegar à caserna já a ideia nos bailava na cabeça e para a concretizar foi só ligar a corrente. Vamos rapá-lo todos e assim foi, o meu foi rapado à lâmina.
A expressão do Capitão Santos quando, no dia seguinte, chegou à formatura não consigo descrevê-la mas julgo ter visto no seu olhar encolerizado todas as cores do arco-íris.
Embora tenha dúvidas quanto à ordem porque estes factos se sucederam não duvido nem um bocadinho da sua relação com o acontecimento que passo a descrever. O Capitão tinha encarregado o Furriel de dar instrução a elementos da população candidatos a milícias. Ele indicou como seus ajudantes os dois cabos da secção, eu e o Manuel da Silva Azevedo e ali ficámos à espera dos candidatos que nunca apareceram.
O que terá provocado a ira do Capitão é que ele queria que nós fossemos às tabancas fazer o recrutamento o que nunca aconteceu. Tal foi motivo para instaurar um processo disciplinar ao Furriel que julgo ter tido algumas consequências de pequena monta. Esta decisão da carecada foi uma das mais gratificantes, para mim, pela mensagem surda que significou e pela solidariedade demonstrada entre todos os camaradas.

Disparar por disparar
Qualquer militar dispara
Mas estar lá e alinhar
Ser gozado e aguentar
Só quem tem barba na cara.

A Guiné era tão negra
Tão seca, tão doentia
Que a água que se bebia
Em vez de matar a sede
A hepatite trazia

Cumprimentar os mosquitos
Começava manhã cedo
Lambiam-me testa e braços
E em esmagantes abraços
Neles vingava meu medo.

António Fernando Pinto d'Almeida
Vila Nova de Gaia - 3/2/2009

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

P102: CARLOS CORREIA

Com a devida vénia a "O Mirante", semanário regional que se publica na Chamusca. Entrevista publicada na edição de 22 de Abril 2004 (http://semanal.omirante.pt/index.asp?idEdicao=124&id=9420&idSeccao=1414&Action=noticia).

Histórias de guerra e paz
Tinha 22 anos quando embarcou num barco a vapor para ir defender a ex-colónia portuguesa da Guiné. Corria o ano de 1970. Mal chegou, o então alferes Carlos Tavares Correia foi confrontado com a morte. Ainda nem tinha saído para o mato. A companhia (nota do blog (NB): era um pelotão, não uma companhia)que comandava teve que ir fazer a evacuação de uma patrulha atingida por uma mina. No regresso ao aquartelamento transportou quatro mortos.
Foi o primeiro contacto com a dura guerra colonial, de que tinha ouvido falar no treino das forças de operações especiais em Lamego. Na viagem de sete dias no barco, antes usado para transportar gado dos Açores para o continente, sentia que não queria ir. Mas o dever de defender a pátria acabou por falar mais alto. O calor e a humidade da Guiné foram as primeiras dificuldades que encontrou. Depois habituou-se ao clima. Aos tiros. A dormir em abrigos, cavados debaixo do chão.
A companhia (NB - o pelotão) que comandava, com 30 homens, era conhecida pela companhia 27 escudos, porque tinha o número 2700. Durante os mais de 24 meses que esteve no teatro de guerra nunca viu o inimigo. Após os ataques o único sinal dos “turras” - como eram designados os guerrilheiros dos movimentos de libertação -, era o sangue espalhado no chão.
As primeiras saídas para o mato foram as mais complicadas. “Íamos à procura do desconhecido. Havia um ambiente temeroso. Depois, ao fim de um tempo, habituámo-nos”, contou. Tal como se acostumaram ao som das balas que durante a noite voavam por cima dos abrigos. Uma forma de desgastar as tropas portuguesas.
Hoje com 56 anos e com a patente de tenente-coronel, Carlos Correia é dos poucos combatentes que ainda se mantém no activo. Está no Campo Militar de Santa Margarida (CMSM), Constância, e reside no Entroncamento. Mais de 30 anos após a guerra, ainda recorda o episódio em que uma mina rebentou a cerca de 100 metros da sua posição. Morreram três soldados de outra companhia (NB: de outro pelotão) e dois ficaram mutilados.
No tempo que esteve na Guiné a maior satisfação foi ter trazido para casa todos os homens que levou. Apesar de terem registado 14 flagelações ao aquartelamento e o rebentamento de 7 minas (NB ???), que só por milagre não apanhou nenhum dos elementos da companhia 27 escudos.
Carlos Correia diz que a Guiné era o Vietname português. As grandes dificuldades prendiam-se com o facto de haver muitas povoações que ajudavam os guerrilheiros. Nas saídas para o mato dos militares portugueses costumavam ir habitantes locais a acompanhar. Quando não ia ninguém já se sabia que se preparava um ataque.
A maior felicidade que guarda do tempo de combate é a de não ter tido baixas na sua unidade (NB: no seu pelotão, já que a Companhia teve 6 mortos). E as amizades que se fizeram e que estão em centenas de fotografias guardadas em duas caixas de sapatos.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

P101: COMEMOREMOS DEZ MIL VISIONAMENTOS!!!

P100: DICIONÁRIO FULA-PORTUGUÊS

Com a devida vénia e autorização do seu autor, o ex-Furriel da C. Cav. 2749, Luís Borrega, que tal como nós prestou serviço militar, entre 70 e 72 na Guiné (Piche), transmito, agora sim, um dicionário a sério. Foi agradável rememoriar algumas palavras das quais já não me recordava como: ari gá, nafinda ou nhaluda, django, ancora-me (muitas vezes ouvi: "alfero ancora-me"), gosse, suma, conhe (bô suma conhe).

um/go; dois/didi; três/tati; quatro/nai; cinco/joi; seis/jego; sete/jeti; oito/jetati; nove/jenai; dez/sapo; onze/sapogo; vinte/nogai; trinta/sapan tati; quarenta/sapan nai; cinquenta/sapan joi; sessenta/sapan jego; setenta/sapan jeti; oitenta/sapan jetati; noventa/sapanjenai; cem/temedere; duzentos/temedere didi; trezentos/temedere tati; quatrocentos/temedere nai; quinhentos/temedere joi; seiscentos/temedere jego; setecentos/temedere jeti; oitocentos/temederejetati; novecentos/temedere jenai; mil/uluri;
acabou/gassi; acaba/atchirni; agora/joni; água/deam ou lera; amanhã/django; anda cá/ari gá; ano/dubi; barba/varé; barriga/hedo; bigode/sunsuncosi; boa noite/naquirda; boa tarde/nhaluda; boca/unduco; bom dia/nafinda; braço/jungo; cabeça/more; cabelo/secundo;cabrito/beua; cadeira/julere; cadra/ieso;cala-te/panco; calça/tubá; cama/danqui; camisa/uté;canela/corxal; cão/rabanobarero; casa/sudo; cativo/matchoró; chão/leidi;chefe tabanca/jarga; comer/nhame; coração/uonqui; costas/bao; coxa/bussal; cu/pobé ou dore; cunhado/vagian; dá-me/ancorame; de manhã/biribi; de tarde/quiquiri; dedo/ondo; deita/valo; deixa-me/tertolá;dente/nhire;dentes/nhie;depois de amanhã/fato django; depressa/gosse; dia/nhalorma; dôr/musse; está bem/aúa; está bom?/jametum; esteira/gaté; filho/bobo; fonte/boma;galinha/guertogalo; gazela/jaure;grande/mauro;homem/gorgo;igreja/juliadé; igual/suma; javali/dulungui; joelho/houro; lábio/tondô; levanta/imo; macaco/conhe; mãe/nené; mamas/endo; mão/neuréjungo; meiodia/midi; mentira/afenai; mês/levr; meses/lebi; minha mulher/de boan; muito/pui; mulher/dêbo; não há/alá; não quer/áfala ca; nariz/ineri; oquê?/côno?; obrigado/jarama; olho/guité; orelha/nouro; padre/cherno; pai/babá; palavra/barqui; parede/madi; peito/berne;pénis/pundi; pénis/tepére; pescoço/dande; porco/combaro; pouco/sera; primo/denda; quantos/jêlo; quarto/concoro; que foi a Meca/alage; queixo/vocoré; quer/áfala; salta/jipo; sapato/padé; senta/jororó; sim/há;sogro/chiradé; tabanca/cassari; telhado/varnequeri; tio/cao; tu ouves?/anane?; umbigo/udo; unha/fedango; vaca/nague; vagina/jambere; verdade/futi; vou/miai.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

P99: HINO DEDICADO PELA 2405 À 2700

Mensagem do Victor David (ex-Alf Mil, CCAÇ 2405, Dulombi, 1968/70):
Caríssimo Luís Graça:
A minha veia de escritor passou toda para o Felício aquando da nossa passagem pela Guiné, pelo que não tenho colaborado no blogue activamente, mas não tenho deixado de ser um leitor atento e interessado na grande qualidade dos seus escritos e orientação. Para mim continua a ser dos mais completos, interessantes e valiosos documentos para a memória dos tempos inesqueciveis que passámos na Guiné, sobretudo porque são depoimentos de quem viveu os factos e não de quem os trata jornalisticamente, impingindo-nos a sua versão não vivida!...
Bem, mas respondendo ao pedido que foi lançado no blogue àcerca da letra do Hino da CCaç 2405, na altura da recepção à companhia que nos foi render em Dulombi e, depois de devidamente analisada a papelada em arquivo próprio, aqui vai ela (de autoria do Felício - ou do Rijo - já não sei) e música, também me não lembro de quem - mas de uma canção na moda naquela altura:

SÊ BEM VINDO, PIRIQUITO,
PIRIQUITO,
JÁ CANSAVA DE ESPERAR,
DE ESPERAR.

COMO VÊS ISTO É BONITO,
COM MUITA COBRA E MOSQUITO
E GUERRILHA A CHATEAR,
A CHATEAR.

ANDA CÁ, ESTÁ SOSSEGADO,
DESCONTRAI, POUSA A CANHOTA
QUE O IN ESTÁ NOUTRO LADO,
ANDA PRAÍ EMBOSCADO,
EM ALGUM PONTO DE COTA.

ATAQUES, FLAGELAÇÕES,
MUITAS MINAS, EMBOSCADAS,
VERY LIGHTS AOS MONTÕES
E MANGA DE ROQUETADAS,
AS SABOROSAS RAÇÕES
E A CARNE AFIAMBRADA.

HÁ ABELHAS E MOSQUITOS,
OLÉ LÉ LÉ LÉ,
MOSCA CHATA E FORMIGA,
OLÉ LÉ LÉLÉ,
SAPOS, RÃS E UNS LAGARTITOS,
OLÉ LÉ LÉ LÉ
MAS É TUDO MALTA AMIGA!
OLÉ LÉ LÉ LÉ.

Um abraço
Victor David
BAIXINHO DO DULOMBI ( com muita honra!)

P.S. Quem souber de que canção era a música, que dê uma ajuda!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

P98: AINDA O MACACO-CÃO

Crónica do Luís Dias (Alferes da Companhia que nos foi render)

Avistamento de Macaco-Cão na Zona de Dulombi/Galomaro

A CCAÇ 3491, a que eu pertenci, esteve instalada, entre Janeiro de 1972 e Março de 1973, no Dulombi. Entre Março de 1973 e Março de 1974, a maior parte da Companhia esteve instalada em Galomaro, embora permanecessem 13 elementos e 2 Pelotões de Milícias no Dulombi e continuássemos a efectuar acções dentro da sua área (detínhamos a maior zona territorial de intervenção, em termos de Companhia). A zona tinha mais a sul os aquartelamentos do Saltinho e mais a norte Cancolim e Canjadude, e situava-se no Leste da Guiné.

Na primeira Operação em conjunto com a Companhia que fomos substituir - a CCAÇ 2700 - (1 de Fevereiro de 1972) e ao fim da tarde tomei pela primeira vez contacto com os babuínos e, pela forma peculiar com que se expressavam - latiam como cães - ficámos convencidos de que se tratava de cães do IN, pois ali era terra de ninguém e só nós ou os guerrilheiros por ali poderiam andar. É claro que a velhice e os milícias colocaram um riso malandro, fazendo crer, primeiramente, que eram os cães do PAIGC e só depois nos acalmando, dizendo que era um bando de macaco-cão.

Durante as operações que efectuámos na zona do Dulombi, entre esta população e o Rio Corubal, vimos muitas vezes bandos destes macacos, também chegámos a observá-los na picada (estrada) entre Dulombi e Galomaro. Quando estávamos instalados durante algum tempo atreviam-se a aproximarem-se, embora com cautelas. Havia sempre uns indivíduos maiores que ocupavam posições mais elevadas, como um morro de baga-baga ou uma árvore, parecendo ficar de vigia. Faziam por vezes um barulho ensurcedor, mas na maior parte do tempo pareciam estar sempre na brincadeira. Pareciam grupos grandes, de 40/50 indivíduos.

Quando a população do Dulombi plantava a mancarra, deixavam sempre alguém a tomar conta da plantação, seja para afastar os babuinos, seja para os dissuadir através de tiros de Mauser. Não temos conhecimento de qualquer ataque deste tipo de macacos, seja à tropa, seja à população, embora sejam aguerridos. Numa da vezes em que estávamos instalados para efectuar um descanso, um bando de babuínos surgiu e como estavam a fazer um barulho muito intenso, os meus soldados fizeram uma aposta comigo em como não era capaz de atingir um dos mais barulhentos que víamos a mexer por entre as árvores, a uma distância de perto de 80/100 metros. Como tinha a mania que tinha boa pontaria e perícia, pensei: vou apenas pregar um susto ao bicho. Rodei o diópter do aparelho de pontaria da G3 para a alça de 300m e apontei ao lado do macaco e disparei. Para minha surpresa, o animal caiu da árvore, chegando ao chão morto. Tinha-lhe acertado em cheio, apontei ao lado, mas houve qualquer desvio e o tiro foi fatal. Foi uma burrice... uma traquinice pouco ecológica e respeitadora de outros seres vivos. Raio de aposta!

Contava-se estórias de que os Fulas comiam macaco e que mesmo esse petisco havia sido provado por militares nossos, mas não sei se é verdade. No quartel não havia babuínos em cativeiro, unicamente um macaco mais pequeno que pertencia ao Escriturário da Companhia, mas que foi fuzilado por mim quando o apanhei a arrancar a cabeça dos nossos pintainhos, que criávamos para nos alimentar posteriormente.

Um abraço
Luís Dias

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

P97: CANCIONEIRO DO DULOMBI

Dulombi te deixarei,
Dulombi te deixarei,
e o dia está bem perto,
As tuas bajudas giras
Vamos deixá-las aos piras,
Que nós vamos de regresso.


Passo a transcrever uma missiva do Luís Graça (Administrador do Blog sobre a Guiné) para o Luís Dias (Alferes da Companhia que nos rendeu) apelando para a recolha das canções que eram trauteadas em Dulombi. Algum de vós se recorda do Hino feito pela 2405 para nos dar as Boas-Vindas?

Luís:

O seu a seu dono... Vou corrigir... E fazer mais um poste sobre o Cancioneiro de Dulombi... Os versos são teus, mas o que importa é que os teus camaradas se apropriaram deles e cantaram-nos (e continuam a cantá-los nos vossos convívios)...Em Dulombi e em muitos outros sítios da Guiné, havia poetas, como tu, que nos ajudaram a não perder a alma e a manter a cabeça em cima do pescoço e o pescoço em cima dos ombros...

De resto há uma tradição poética, iniciada pelos Baixinhos de Dulombi, a malta da CCAÇ 2405, de 1968/70. Num dos postes, o ex- Alf Mil Rui Felício escreveu isto (***):

"Tinhamos acabado de receber no Dulombi a Companhia de atónitos periquitos que, durante uma semana, iam ficar em sobreposição connosco.

"Acolhemo-los com o aquele ar superior de guerreiros invencíveis, calejados pelos combates, a pele tisnada dos sóis tropicais, e além das costumadas praxes, meio inofensivas, que exercemos sobre eles, dedicámos-lhes, com a proverbial simpatia característica dos Baixinhos do Dulombi, um hino de recepção ao periquito que ainda hoje cantamos em todos os almoços anuais de comemoração que realizamos.

"Fui eu o autor da letra (perdoem-me o orgulho ) que, em versos decassilábicos, procurava transmitir aos novatos o que era o dia a dia que os esperava nos confins do mato onde iriam passar dois anos.

"O Alf Mil Rijo sacou dos seus dotes musicais até aí ocultos e plagiou uma música que se adaptasse à versalhada que em momento de suprema inspiração eu tinha produzido. É ele que hoje guarda religiosamente essa letra que eu, embora seu autor, não sou já capaz de reproduzir na íntegra" (...).

Pois é, meu caro Luís Dias, ainda não consegui sacar ao teu avô Rui Felício essa famigerada letra. Em 5 de Setembro de 2006, mandei-lhe um pedido que ele deve ter arquivado... O actual dono das letras parece ser o ex-Alf Mil Jorge Rijo, que anda incontactável, depois de se reformar dos seguros. Vou-lhes, daqui, solenemente, implorar, a ambos (e aos outros dois Baixinhos de Dulombi, que eu conheço, o Paulo Raposo e Victor David, que não nos esqueçam, a mim, a ti, a todos nós, de modo a salvarmos e enriquecermos o Cancioneiro de Dulombi / Galomaro...

Rui, Jorge, Luís, camaradas !... Seria uma pena que os últimos épicos da Pátria, os derradeiros Camões, que fomos nós, os últimos poetas do Império, deixem perder, por negligência, incúria, esquecimento, cansaço ou qualquer outra razão - por muito válida que possa ser ou parecer -, os últimos versos que escrevemos, a pena numa mão e a espada na outra, nos campos de batalha da Guiné...

Obrigado. Abraço. Luís

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

P96: LEVANTAMENTO DE RANCHO


"QUEM COMER ESTA MERDA LEVA COM A TERRINA NOS CORNOS"
Eis o santo e a senha dum levantamento de rancho ocorrido no aquartelamento pelos finais de 1971.
Nesse dia o 2.º Pelotão deveria, ainda, estar em operação mas como o seu objectivo tinha sido cumprido, isto é, percorridos todos os pontos que constavam no plano - essencialmente o patrulhamento do Jifim -, o Alferes Barata permitiu que entrássemos mais cedo no Quartel, tendo contudo cada um de nós comido a ração de combate e não o almoço servido no refeitório. Alguém, cujo nome não me recordo, pediu-me para trocar a refeição dele, no refeitório, pela minha ração de combate, o que aceitei, assim me envolvendo em total ignorância numa iniciativa com a qual concordava mas para a qual não tinha sido ouvido nem achado. No dia seguinte o 2.º Pelotão estava de serviço ao quartel e um grupo de camaradas, assustado com rumores de represálias, que prolongariam a comissão para além do tempo previsto, dirigiu-se-me (cabo de dia) apelando a que se formasse a Companhia e que em nome dela se pedisse desculpa ao nosso Capitão.
Mais tarde, um antigo camarada de armas, que se encontrava presente no convívio da 2700 e cuja identidade só revelarei se por ele for autorizado, chamou-me traidor por ter pedido desculpa. Portanto, o santo, a senha, a discussão, a decisão e a execução do levantamento do rancho resume-se àquela frase inicial: QUEM COMER ESTA MERDA LEVA COM A TERRINA NOS CORNOS.
Quanto aos louvores, que naquelas circunstâncias, e naquele tempo julgava merecer, depressa o tempo se encarregou de mostrar quão absurdas eram.

P.S. - O nome do verdadeiro responsável, provavelmente até faria rir um baga-baga, e certamente faria pasmar grande parte da Companhia.

António Fernando Pinto Almeida
1.º Cabo 190311/69
2.º Pelotão
Vila Nova de Gaia, 19 de Janeiro 2009

Á guerra não ligues meia
Porque alguns grandes da terra
Vendo a guerra em terra alheia
Não querem que acabe a guerra.
António Aleixo

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

P95: DICIONÁRIO FULA-PORTUGUÊS

Acabo de receber um mail do Lemos com mais umas achegas para a constituição do nosso Dicionário Fula-Português. Diz ele que guetorgal significa galinha (pelo som parece ser mais galo que galinha. Ou será Gue=fêmea Tor=do Gal= galo?). Adivinhem lá por que razão, a esta distância no tempo, ele ainda se lembra das galinhas. Outra expressão "manga de ronco", utilizada quando se queria dar referência a algo que tinha muito impacto. Sinceramente, não sei se esta expressão será fula ou uma corruptela do português já que ronco na nossa linguagem também pode ter o significado de alarde (ostentação, aparato).
Fico aguardando outros contributos. Deve haver alguém a recordar-se de cabrito...

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

P94: TIMÓTEO CAPA DE REVISTA






Aconselho a leitura. Embora em inglês a entrevista do Timóteo está excelente. Desde a sua meninice nas margens do Nabão, não esquecendo aqueles dois importantes anos passados em terras de Cossé, até aos dias de hoje. Em Coimbra esgotou num ápice.Se alguém encontrar ainda algum exemplar pedia-vos a favor de comprarem.